“O Deus das Moscas” é um dos maiores clássicos da literatura que foi adaptado neste romance gráfico de Aimée de Jongh (“Dias de Areia”) ampliando o impacto e deslumbramento do romance original de William Golding.

O livro de Golding, originalmente publicado em 1954, é uma fascinante reflexão sobre a humanidade na sua sedução pelo caos e a destruição.

A alegoria criada por William Golding desenrola-se numa pequena ilha onde se encontram os sobreviventes de um desastre de aviação. O grupo é constituído por estudantes de um colégio britânico formado por crianças e pré-adolescentes. Estabelece-se inicialmente uma ordem baseada na diversão, o abrigo e a criação de um sinal de resgate através de uma fogueira que possa ser avista do mar ou do céu. Temos alguns personagens que definem a história. A ordem é representada por de Ralph e Piggy e o caos através da figura de Jack Merridew, um miúdo obcecado pela caça e pela liderança, o que irá traduzir-se em consequências trágicas para o grupo de sobreviventes. O diálogo dá lugar ao conflito e os medos dos mais pequenos tornam-se contagiantes na ideia que existe um monstro no meio da floresta. É o princípio do caos.

A narrativa é provocadora pela temática e por ter como protagonistas crianças que, vendo-se num espaço sem adultos, acabam por perder a sua humanidade, tornando-se criaturas selvagens, sujeitas a uma lógica de presas e predadores, dominadas por um “macho alfa” com ânsia de domínio. Há igualmente o perturbador contraste de uma ilha com uma exuberante beleza natural, com a selva e as praias resplandecentes, na arte de Aimée de Jongh, perante a gradual descida aos infernos destas crianças na representação do lado negro da humanidade. É um evidente paralelismo alegórico da existência do Homem na Terra.  

Relembramos que antes dos sucessos do cinema «The Hunger Games – Os Jogos da Fome» (2012), «Battle Royale» (2000), ou da série de televisão «Yellowjackets» (2021), existia “O Deus das Moscas”. Também podemos ser realistas e afirmar que antes da ficção já existia o Homem e a capacidade de regressar à raiz do mal. William Golding escreveu o romance na década de cinquenta do século passado, ele era um ex-militar e sobrevivente da 2.ª Grande Guerra. O seu livro foi rejeitado por inúmeras distribuidoras até se tornar uma obra incontornável do século XX. Recordo-me de uma adaptação ao cinema dos anos 1990, «O Senhor das Moscas», de Harry Hook, que não atinge os píncaros dramáticos do livro e do romance gráfico de Aimée de Jongh. Também existe uma adaptação cinematográfica de 1963 e a BBC está a preparar uma minissérie. Esta novela gráfica segue literalmente os diálogos originais aliados à arte desta criadora dos Países Baixos. A artista já tinha tentado a adaptação gráfica do livro em 2013, numa proposta à filha e aos netos de William Golding. Valeu a pena a espera porque o trabalho de Aimée de Jongh é triunfante, captura em pleno os diferentes ritmos da narrativa e tem a capacidade de contar uma história incrível a um nível emocional. O romance gráfico empurra-nos, igualmente, para a introspeção da vida e do mundo que, por muito que evolua, continua hipnotizado pela sua autodestruição. 

No ano em que se celebram os 70 anos do lançamento do romance de William Golding, este romance gráfico torna-se um must! A edição em banda desenhada de Aimée de Jongh é uma oportunidade para celebrar um livro da biblioteca universal num formato único. Publicado pela ASA BD, “O Deus das Moscas” é um colosso de 340 páginas que continua a ser cada vez mais um livro fundamental.

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