Nomeado para três Óscares, nomeadamente Melhor Filme de Animação, «Robot Selvagem» (2024) é uma lufada de ar fresco ao abordar a evolução tecnológica de uma nova perspetiva. E se um robot de alta tecnologia se perdesse e, sem conhecer nada mais do que a sua programação de raiz, acordasse no meio da Natureza? Como poderia cumprir a sua missão de agradar ao cliente? Como reagiriam os seres vivos a esta aparente ameaça? A longa-metragem parte dos livros de Peter Brown.
A adaptação do livro de Peter Brown consegue captar a essência emocional da obra, enquanto entrega uma experiência cinematográfica envolvente e visualmente deslumbrante. Em termos imagéticos, contactamos com um futuro distópico, embora com a Natureza tal como a conhecemos, o que contrasta depois dos espaços urbanos super tecnológicos. Estes também ameaçam a manutenção dos espaços verdes e da própria vida animal, que é demasiado frágil perante estruturas mais capacitadas.
Adaptação. A palavra-chave por detrás da história da Humanidade e também do filme de Chris Sanders (Como Treinares o Teu Dragão, Os Croods), é um dos principais motores da ação. Perante situações imprevistas e necessidades fora do padrão, Roz (voz de Lupita Nyong’o) desenvolve uma consciência própria e começa a questionar o seu lugar no mundo. É certo que um filme mais dramático e “sério” iria mais além, mas «Robot Selvagem» (2024) é bem-sucedido na sua missão: pôr a audiência a pensar com uma narrativa bem mais simples do que o habitual. Subtil, mas eficaz.

Ao ter de cuidar de uma cria (Kit Connor), Roz conta com a ajuda improvável de Fink (Pedro Pascal), que inicialmente até se aproveita da sua ingenuidade. No entanto, a missão que visava libertar o robot acaba por ser aquela que o faz querer ficar. O desafio de Roz é uma metáfora poderosa sobre a procura de identidade e pertença, explorando temas universais como a solidão, a amizade e a família.
Quando observado à distância, o filme pode parecer superficial, já que não apresenta os seus temas de forma complexa. Não há uma grande resposta ou uma solução magistral, arrancada depois de longas análises e questões filosóficas… A vida simplesmente acontece. E, à medida que os acontecimentos se sucedem, as personagens têm de reagir e encontrar união onde antes havia demasiadas diferenças. No entanto, esta possível falha é uma das suas forças, já que apresenta menos distrações e passa uma mensagem mais direta.
«Robot Selvagem» (2024) é mais do que um filme de animação para crianças. É uma reflexão sobre a relação entre tecnologia e Natureza, e sobre o do poder das conexões, humanas ou não. É uma experiência visual e emocionalmente rica, que fala tanto a adultos como a jovens, e que reafirma o poder da animação para contar histórias teoricamente complexas de uma forma acessível e deliciosa.
Título original: The Wild Robot Realizador: Chris Sanders Elenco: Lupita Nyong’o, Pedro Pascal, Kit Connor Duração: 102 minutos Ano: 2024 Origem: Estados Unidos
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