Façamos um breve desvio conservador. O que, neste caso, significa assumir uma atitude capaz de contrariar algumas “modas” cinematográficas do nosso presente. Ou ainda: admiremos os filmes que, sem preconceitos, se apresentam claramente filiados numa tradição clássica cuja herança continua a ser um motor de vitalidade. Falo de quê? De um título da competição em Cannes: «Dossier 137», um drama assinado pelo francês Dominik Moll, centrado numa composição de Léa Drucker, por certo uma das actrizes mais brilhantes, e também mais versáteis, no actual panorama da produção francesa. Drucker interpreta uma investigadora da IGPN (Inspection Général de la Policie Nationale), a “polícia das polícias” do Estado francês. Ao investigar uma agressão perpetrada por um polícia contra um jovem durante as manifestações dos “coletes amarelos”, ela vai enfrentar uma teia de relações em que o social e o familiar se enredam de modo intenso e perturbante — pensamos num certo modelo de policial “à la française”, ligado a nomes lendários como Jean Gabin ou Lino Ventura, agora numa subtil versão feminina.
