«O Voto de Irena», realizado por Louise Archambault, baseia-se na história real de Irena Gut, uma enfermeira poloca que arriscou a sua vida para salvar um grupo de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O filme transcende a narrativa histórica e convida o espectador a refletir sobre o ciclo vicioso da guerra e como a violência continua a renascer, geração após geração, numa repetição cíclica de violência e de ódio.
Acompanhamos Irena (interpretada por Sophie Nélisse) enquanto ela se vê forçada a colaborar com oficiais nazis para garantir a sobrevivência dos judeus escondidos na cave. A narrativa apresenta não apenas os dilemas morais da protagonista, mas também revela como a guerra consome a essência humana, deixando cicatrizes que não desaparecem, mesmo com o passar do tempo. A guerra não é um evento isolado no tempo, mas uma condição que se perpetua nas memórias traumáticas, em rancores não resolvidos e em ideologias que, ao invés de serem superadas, são herdadas por novos actores.
A interpretação de Sophie Nélisse traz profundidade à personagem de Irena, movendo-se entre momentos de coragem extrema e vulnerabilidade absoluta, refletindo o custo humano de viver num estado constante de sobrevivência. Mas mesmo no meio do mais profundo horror, pequenos actos de bondade podem ter um impacto significativo. No final, contudo, o espectador é levado a perguntar-se se a violência é uma característica inevitável da condição humana – um ciclo que se repete como uma sombra sobre a história.
O olhar de Archambault é cuidadoso e transmite essa dualidade: momentos de esperança são constantemente confrontados pela realidade dura de que o ódio sempre encontra novas formas de se manifestar. Ao tentar salvar vidas, Irena acredita estar a quebrar essa cadeia de violência, mas o filme sugere que, embora actos individuais de coragem possam fazer a diferença, a guerra como fenómeno maior é um ciclo que a humanidade parece incapaz de interromper.
Diante de exemplos inspiradores de empatia e heroísmo, a humanidade parece estar condenada a reviver os mesmos erros, repetindo conflitos que nunca chegam verdadeiramente ao fim. «O Voto de Irena» não é apenas uma história sobre o passado – é um lembrete de que o ódio é uma semente sempre prestes a germinar, e que, enquanto não aprendermos a reconhecer e a desmantelar esse ciclo, estaremos fadados a viver sob a sombra eterna da guerra.
Título Original: Irena’s Vow Realização: Louise Archambault Elenco: Sophie Nélisse, Dougray Scott, Andrzej Seweryn Duração: 121 min. Canadá, Polónia, 2023