Nunca a Terra Média, ou qualquer outro reino ficcional, viu algo assim na televisão. «O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder», da Amazon Prime Video, é uma série sumptuosa, com uma dimensão como nunca antes foi vista no pequeno ecrã. Parecem mais oito longas-metragens do que oito episódios de uma série de televisão, tal é a amplitude visual narrativa e de produção.
Os efeitos digitais de «O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder» são o próximo nível. Dizem os rumores que cada episódio teve um orçamento de 100 milhões de dólares – há duas décadas era o orçamento de um blockbuster de Verão. Podemos assegurar que encontramos todos os cêntimos deste investimento em cena. O nível de detalhe é absurdo e a direção de arte, o figurino, a orquestração e a maquilhagem atinge níveis insanos. Ainda bem que é uma série, assim podemos ver e rever todos os detalhes. A segunda temporada limpa os erros da primeira: aprimorou as arrestas e tornou tudo mais objetivo em termos de valores globais (bem vs mal) na batalha pela alma da Terra Média. Abriu espaço para diferentes níveis de intriga dramática entre histórias pessoais, conflitos familiares, paixões, intrigas políticas, a cobiça, o engano e a vingança.
Esta temporada fica marcada pelas histórias de origem de duas figuras charneira dos livros de Tolkien: Gandalf e Sauron. As intrigas de Númenor estão perfeitas e o drama da criação dos anéis e a perversão de Sauron tem uma exposição insidiosa. Para os fãs, ver o rosto e a psicologia de uma figura tenebrosa como a de Sauron (na saga cinematográfica era apenas um nome dentro de uma armadura) é um acontecimento que torna a série preciosa para os filmes e para a valorização da primeira temporada. Há um genuíno sentimento de prequela ao percebermos mais ligações com o universo cinematográfico.
Os actores dominantes desta época são Morfydd Clark (a estrela da série), no papel de Galadriel, Charlie Vickers, como Sauron, Charles Edwards, como o Lord Celebrimbor (o alquimista responsável pela criação dos famosos anéis), e Maxim Baldry ,como Isildur, um papel que mescla o romance e a sua coragem de guerreiro. A melhor gestão narrativa da segunda temporada consegue não só desbravar histórias de origem como fazer fluir a narrativa. É uma temporada mais equilibrada na gestão entre as várias histórias, os momentos de representação e intriga e as sequências épicas. Os últimos episódios são apoteóticos, e à medida que vamos encontrando conexões entre a série e os filmes tudo se torna mais claro e emocionante.