Page 99 - Revista Metropolis 123
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LEGADO MISSÃO IMPOSSÍVEL





















































 MAMÃ KUSTERS VAI PARA O CÉU  [1975]




            (Irm Hermann) que só pensa no bem-estar e na sua   verdade nunca saberemos ao certo) um monstro, não
            parca carreira de horizontes curtos, e uma rapariga   só pela dimensão do crime de que foi protagonista
            mais velha (Ingrid Caven), que ganha a vida numa   mas igualmente pelas atitudes comportamentais
            espelunca onde o cheiro a sexo rasca se mistura com   no quadro familiar, como indícios de violência
            os vapores do consumo de álcool para esquecer. Esta   doméstica e outras questões de fácil manipulação
            pretensa cantora de cabaret não vive com a mãe, mas   das emoções, narrativas canalhas destinadas a um
            o irmão mora na modesta casa da classe operária   público com pouco critério e sempre atento ao horror,
            onde a mãe Kusters se habituou a sobreviver no    ao drama forçado, ao quadro escabroso do vasculhar
            seio das suas rotinas diárias, as da chamada fada do   da vida alheia. Rainer Werner Fassbinder não poupa
            lar. Esta senhora, que nunca esperou ver o marido   ninguém neste seu quase panfleto sobre a miséria
            cometer aquele crime, e que para ela era um homem   moral do lado negro da sociedade capitalista, mas
            bom que ajudava os seus semelhantes sem pedir     não se fica pela crítica do sistema plutocrático e
            compensação pelos seus gestos solidários, logo após   entra no domínio da crítica dos que se apresentam
            a notícia dos incidentes na fábrica será rodeada de   como defensores de um outro sistema. Depois de se
            uma quantidade de jornalistas que, quais abutres da   livrar da influência de um jornalista de um pasquim
            comunicação, querem publicar uma história revista   sensacionalista (Gottfried John), provavelmente um
            e ampliada dos acontecimentos. Na prática, fazer de   órgão de extrema-direita, que acabara de publicar
            um homem bom e das suas verdadeiras razões (que na   um artigo miserável com a realidade distorcida




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