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DIANE KEATON (1946-2025)






            de  um Homem»,  de Richard  Brooks,   Maureen Stapleton e Sam Waterston.   los como «Nem Guerra Nem Paz», lan-
            vivendo um assombramento noturno,   A sofisticação do seu trabalho tem um   çado em 1975). Ela foi, afinal, um dos
            tocado pelo espírito do “noir”, capaz   momento emblemático em «Reds»   rostos de fenómenos de popularidade
            de inverter os códigos tradicionais do   (1981), de e com Warren Beatty. De fac-  como “O Pai da Noiva” (1991), de Char-
            masculino/feminino  —  com  ela  con-  to, a sua composição de Louis Bryant   les Shyer, «O Clube das Divorciadas»
            tracenava um quase desconhecido   combina a complexidade afectiva com   (1996), de Hugh Wilson, ou «Linhas
            de nome Richard Gere. Sem esque-  a  dimensão  política  da  personagem,   Cruzadas» (2000), neste caso assumin-
            cer que a variedade dos seus registos   ao serviço de um verdadeiro épico so-  do também as funções de realizadora.
            sob a direcção de Woody Allen seria   bre a odisseia de John Reed (autor de
            suficiente para reconhecermos a es-  “Dez Dias que Abalaram o Mundo”)   Tudo isto nunca cedendo a poses ou
            pantosa riqueza dos seus recursos de   nos cenários da Revolução Soviética.   comportamentos convencionais de
            composição. Assim, em 1978, Woody                                 uma “star”. Diane Keaton foi uma actriz
            Allen consumava a primeira grande   Em filmes talvez mais conhecidos, Dia-  de muitas transfigurações, sem nunca
            viragem dramática da sua obra com   ne Keaton foi também uma brilhante   perder a dimensão transparente (mas
            «Interiors/Intimidade», dirigindo um   actriz de comédia,  e  não  apenas  no   enigmática) de um ser humano “como
            elenco de luxo em que, além de Dia-  universo de Woody Allen (embora seja   qualquer outro” — para ela, Annie Hall
            ne Keaton [foto], surgiam Geraldine   forçoso destacar o à-vontade com que   acabou por ser uma personagem e um
            Page,  E.G.  Marshall,  Mary  Beth  Hurt,   participou no humor absurdo de títu-  estilo. joão lopes
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