Page 87 - Revista Metropolis 123

LEGADO MISSÃO IMPOSSÍVEL

AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT [1972]

Braad Thomsen, publicada em “Politisk Filmkunst” mas que no entanto parece necessitar de um impulso
(Copenhaga, 1973), Fassbinder chegou mesmo a renovador), no momento em que a encontramos vive
afirmar que Petra Von Kant (Margit Carstensen) era mergulhada nos seus conflitos interiores que a fazem
ele próprio, Karin (Hanna Schygulla), a mulher por passar mal as noites, segundo ela, carregadas de
quem Petra se apaixona, seria Gunter Kaufmann, e a pesadelos que a atormentam. Na sequência inicial está
fiel, masoquista, misteriosa e quase sempre presente na penumbra do seu quarto, dorme. De súbito, uma
assistente e empregada, Marlene (Irm Hermann), o cortina que se abre com alguma violência deixa entrar
“retrato” de Peer Raben. Não importa saber quem eles a luz do Sol, constituindo este despertar uma espécie
são. Note-se apenas, para o que nos interessa, que são de ruptura com os fantasmas e as febris inquietações
homens as referências num filme em que nem um só nocturnas. Mas quem abre essa cortina, Marlene, só
participa de carne e osso no desenvolvimento da acção. pelo olhar que lança sobre Petra, parece não acreditar
Estão lá, sim, mas na intriga e nos diálogos pouco nessa redenção matinal, antes pelo contrário, ela
abonatórios para o modo de ser e estar masculino a sabe que ao peso da noite irá seguir-se um pulsar de
quem Petra, sobretudo ela, atribui defeitos que vão da morte que bate latente como o ritmo de um coração
personalidade dominadora e machista até aos aspectos atacado por doença que não controlamos, enquanto
orgânicos mais básicos, como o “fedor a homem”. Mas a invasão do espaço cenográfico se perfila na relação
quem vem a ser afinal esta Petra Von Kant? Estilista de com outras personagens que irão ser dali para a
moda (saberemos depois com uma carreira de sucesso, frente as interlocutoras privilegiadas da protagonista.

METROPOLIS OUTUBRO 2025 87