Page 88 - Revista Metropolis 123

R A I N ER W ER N ER F A S S B I N D
LEGADO MISSÃO IMPOSSÍVELER

Marlene, quem será esta mulher silenciosa e oprimida, dos homens igualmente diferente, num processo em
que não diz uma palavra? Um anjo da guarda ou o anjo que a designer de moda vai procurar moldar, como se
exterminador? Na prática, uma mulher pálida e fria, que fosse um improvável Pigmaleão, a jovem que só quer
obedece a ordens sem as questionar, apesar do seu rosto saber de si e do seu pequeno umbigo, arrivista que
indiciar a mesma estranheza que nós, espectadores, naturalmente resiste e faz da sua nova mentora gato
partilhamos pelas manifestações irascíveis e sádicas sapato. De repente, Petra deixa-se submeter a um
da patroa. Perguntamos muitas vezes ao longo do jogo de poder, consciente que não pode possuir Karin
visionamento se ela ama de facto Petra ou se gosta de de outro modo, acabando por se deixar humilhar de
ser o manequim vivo ao serviço da arbitrariedade de uma forma não muito distante da que ela usava, e em
quem a domina do ponto de vista laboral e, porventura, abono da verdade, vai continuar a usar cada vez que
social. Finalmente, Marlene será a mulher que, ao lhe surge a oportunidade de empurrar para o “lugar” de
deambular por entre as outras mulheres, no seu papel simples criada a inefável Marlene. Escusado será dizer
maioritariamente submisso, vai acompanhar a inversão que, aqui chegada, a realização não poupa ninguém e
de papéis que se processa quando Petra conhece uma investe contra as contradições das diversas personagens
jovem de uma outra classe social, Karin (que lhe fora de um modo muito claro, objectivo que prenuncia o
apresentada pela sua amiga Sidonie, interpretada por despojamento final em que Petra se vê confrontada no
Katrin Schaake, burguesinha conformada no papel seu corpo e alma com os abismos da sua existência, os
clássico da mulher e amante) com uma visão do mundo caminhos percorridos e os que já não deseja percorrer.

88 METROPOLIS OUTUBRO 2025