Page 122 - Revista Metropolis 123
P. 122

HOMICÍDIOS


                      AO


               DOMICÍLIO



            No coração pulsante de Manhattan,
            o  Arconia  continua  a  provar  que
            nenhum lugar é tão seguro como
            parece. À medida que novas
            mortes perturbam a rotina dos
            seus residentes, «Homicídios ao
            Domicílio» regressa ao Disney+
            para  uma  quinta  temporada
            onde a procura pela verdade
            ameaça amizades, expõe segredos
            e   transforma  um   podcast
            improvisado num espelho do
            fascínio contemporâneo pelo true
            crime
                          SARA QUELHAS


               HOMICÍDIOS AO DOMICÍLIO





                                              O que começou como um passa-     crime é vivido no Arconia. O que
                   HISTÓRIA                   tempo excêntrico de três vizinhos   antes era uma investigação ama-
                                              transformou-se, em «Homicídios   dora ganha eco mediático, fãs, e
            «Homicídios ao Domicílio» segue   ao Domicílio», num fenómeno im-  influencia a perceção pública dos
            três vizinhos que, unidos pelo    provável que atravessa as paredes   casos, condicionando até a atuação
            acaso e pela curiosidade partilhada,   do Arconia e conquista audiências   da polícia. Ao mesmo tempo, a sé-
            transformam uma sucessão de       muito para lá do número da porta.   rie brinca com a febre contemporâ-
            crimes no Arconia num fenómeno    Com humor certeiro, sentido de ab-  nea pelo true crime, revelando tan-
            de investigação e narrativa criminal.   surdo e uma curiosidade quase ob-  to o fascínio como as armadilhas
            Charles-Haden  Savage  (Steve     sessiva, o podcast criado por Char-  desse género: a facilidade com que
            Martin), Oliver Putnam (Martin    les, Oliver e Mabel dá nova vida a   o público transforma tragédias em
            Short) e Mabel Mora (Selena       cada crime, transformando a tra-  entretenimento, a fronteira ténue
            Gomez) descobrem que a verdade    gédia em narrativa partilhada e o   entre justiça e voyeurismo e a ten-
            raramente é linear, e que a exposição   quotidiano em espetáculo. Mais do   tação de procurar narrativas mais
            mediática pode ser tão perigosa   que reconstituir acontecimentos,   cativantes do que factuais. Tudo
            como o crime. Desde a sua estreia,   estas gravações desmontam a pró-  isto sem perder o tom peculiar e
            a série tem reinventado a comédia   pria ideia de investigação: expõem   irreverente que distingue «Homicí-
            de mistério criminal ao misturar   fragilidades humanas, tropeçam   dios ao Domicílio», lembrando-nos
            investigação clássica, humor mordaz   em pistas improváveis e mostram   de que, mesmo no absurdo, há ver-
            e comentário social, sempre com o   que, no mundo real, a verdade ra-  dades que não podem ser ignora-
            emblemático edifício como palco de   ramente surge com solenidade –   das.
            segredos e revelações.            muitas vezes, chega disfarçada de
                                              ironia.                          A quinta temporada leva essa di-
                                                                               nâmica ainda mais longe. A morte
                                              O sucesso inesperado do podcast   inesperada de uma das figuras mais
                                              transforma o destino dos seus cria-  antigas do Arconia desencadeia
                                              dores e altera a forma como cada   não só uma nova investigação, mas

     122  METROPOLIS OUTUBRO 2025
   117   118   119   120   121   122   123   124   125   126   127