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CHARLES-HADEN SAVAGE






            Charles-Haden Savage é a defini-  amador sobre homicídios no seu   marcada por relações interrompi-
            ção de protagonista improvável.   prédio.                         das e pelo medo de voltar a falhar.
            Antiga  estrela  de  uma  série  po-  Ao  longo  de  «Homicídios  ao  Do-  Charles é, acima de tudo, uma fi-
            licial dos anos 90, vive agora um   micílio», Charles revela-se muito   gura em busca de relevância e de
            quotidiano mais discreto no Arco-  mais do que a caricatura do ator   pertença. A sua evolução é feita
            nia, longe do glamour televisivo   em declínio. A investigação dos   de pequenos passos – por vezes
            que outrora conheceu. Por trás do   crimes e a parceria improvável   hesitantes, outras vezes corajosos
            porte contido e da aparência me-  com Oliver e Mabel devolvem-lhe   – que o tornam uma presença cen-
            ticulosa, carrega a ansiedade de   um sentido de propósito que pare-  tral na série. Entre a relutância em
            quem já foi reconhecido e teme   cia perdido, enquanto o obrigam a   abandonar o passado e a vontade
            ter deixado o seu melhor trabalho   enfrentar fragilidades que sempre   de construir um novo lugar no
            no passado. É um homem preso     tentou esconder. O seu humor seco   mundo, Charles encarna o retrato
            entre a  nostalgia e  a necessidade   e a sua tendência para a introspe-  melancólico e profundamente hu-
            de  se  reinventar,  determinado a   ção funcionam como contrapeso   mano de quem descobre, tarde na
            provar que ainda tem algo para di-  ao caos em redor, mas também   vida, que nunca é demasiado tarde
            zer – mesmo que seja num podcast   revelam uma solidão persistente,   para recomeçar.






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