Page 123 - Revista Metropolis nº122
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ideia de que, no século XI, não es-
                                                                              tavam apenas em jogo coroas, mas
                                                                              também legados familiares.


                                                                              «King & Conqueror» não esconde a
                                                                              sua ambição de se inscrever como
                                                                              crónica visual da época. A série re-
                                                                              cria o ambiente político e cultural
                                                                              com atenção ao detalhe, desde a
                                                                              liturgia  da  corte anglo-saxónica
                                                                              até à organização militar norman-
                                                                              da, e procura equilibrar rigor com
                                                                              dramatização. O ritmo assume-se
                                                                              pausado, quase solene, privile-
                                                                              giando a construção das relações
                                                                              de poder e das tensões familiares
                                                                              em detrimento da ação constante.
                                                                              Essa opção dá densidade ao enredo
                                                                              e permite que cada gesto seja lido
                                                                              como prenúncio de conflito. As re-
                                                                              ferências históricas, ainda que por
                                                                              vezes moldadas à conveniência do
        DOIS HOMENS, UMA COROA E O PESO DA HISTÓRIA                           guião, mantêm-se reconhecíveis e

                                   HBO MAX                                    oferecem à audiência uma leitura
                                                                              acessível de um dos capítulos mais
                                                                              decisivos da história europeia.
            Grande parte da força de «King &   Conqueror» se apoie sobretudo em
            Conqueror» reside no trabalho dos   Harold e William, o elenco secun-  No fim, «King & Conqueror» im-
            seus protagonistas. James Norton   dário contribui de forma decisiva   põe-se menos como uma lição de
            dá a Harold uma dimensão contra-  para a densidade dramática. Edi-  História e mais como um exercí-
            ditória: entre a coragem do guer-  th (Emily Beecham) surge como   cio sobre a fragilidade do poder
            reiro e a hesitação do homem di-  contraponto emocional, oferecen-  e a inevitabilidade do destino. A
            vidido por lealdade familiar e pela   do a Harold uma componente de   sua força reside na forma como
            necessidade  de  afirmar autorida-  intimidade que contrasta com a   transforma figuras lendárias em
            de. Já Nikolaj Coster-Waldau com-  carga da responsabilidade. Matil-  homens de carne e osso, presos a
            põe um William frio, estratégico,   da (Clémence Poésy), por sua vez,   escolhas que ressoam ainda hoje.
            mas nunca desprovido de huma-    dá corpo a uma figura feminina de   Pode não agradar a quem procura
            nidade, revelando um duque que   rara firmeza no seu tempo, capaz   apenas o espetáculo das batalhas,
            oscila entre a ambição política e a   de influenciar William sem nunca   mas recompensa o público dispos-
            vulnerabilidade perante os seus. É   perder a sua própria voz, e Lady   to a mergulhar na tensão íntima
            na colisão destas duas presenças   Emma (Juliet  Stevenson) acres-  que antecede os grandes aconteci-
            que a série encontra a sua maior   centa uma dimensão política as-  mentos. Ao revisitar 1066, a série
            tensão dramática, sustentando    tuta às intrigas de corte. Junta-se   lembra-nos que a História não é
            cada episódio com o anúncio la-  Gytha (Clare Holman), matriarca   feita apenas de vitórias e derrotas,
            tente de um combate inevitável.  determinada e estratega silencio-  mas também das contradições e
                                             sa, cuja presença confere à trama   dilemas que moldam quem a vi-
            Embora a narrativa de «King &    um peso geracional que reforça a   veu.





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