Page 121 - Revista Metropolis nº122
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formação: até que ponto o público bre a sombra dos bastidores, lem- reflexo da nossa própria escolha
conseguirá distinguir uma notícia brando-nos de que a televisão, tal coletiva.
de um deepfake? Ao mesmo tempo, como a política, é feita tanto do que
a cobertura dos Jogos Olímpicos se mostra como do que se esconde. A espera pela quarta temporada
e das tensões internacionais – do carrega a mesma tensão que atra-
Irão à Europa em convulsão polí- No fundo, «The Morning Show» vessa cada emissão em direto:
tica – introduz dilemas éticos iné- não fala apenas da UBA ou das suas sabemos que algo está prestes a
ditos, onde cada palavra dita em estrelas. Fala de nós, audiência, do acontecer, mas não o conseguimos
direto pode inflamar ou apaziguar modo como consumimos informa- prever. «The Morning Show» habi-
conflitos globais. ção e do preço que estamos dispos- tuou-nos a olhar para além das lu-
tos a pagar por uma narrativa con- zes e a desconfiar do guião oficial, e
Também a estética reforça esta fortável. Até que ponto aceitamos é essa inquietação que nos prende.
crítica. Os estúdios iluminados, histórias prontas sem questionar? Quando o ecrã voltar a acender-se,
cheios de cor e aparente leveza, Quantas vezes preferimos o espe- não será apenas o destino de Alex,
contrastam com corredores som- táculo à complexidade dos factos? Bradley e da UBA que estará em
brios e salas de reuniões onde se A série devolve estas perguntas ao jogo; será também a forma como
decidem os verdadeiros rumos da espectador, lembrando que cada continuamos a pensar o papel da
UBA. A luminosidade do ecrã enco- notícia em direto é também um verdade no nosso tempo.