Page 120 - Revista Metropolis nº122
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ENTRE A LUZ DO ECRÃ E A SOMBRA DOS

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            “A verdade importa. Às vezes é a úni-  Em «The Morning Show», o que   absoluto. Bradley, Alex e outros
            ca arma que temos contra os homens   está em causa não é o esquecimen-  rostos da UBA oscilam entre o
            poderosos que tentam silenciar-nos”.   to, mas a escolha consciente de   conformismo e a rebeldia, procu-
            [Bradley Jackson]                calar. Muitos dos seus protagonis-  rando brechas por onde a verdade
                                             tas sabem que não estão a contar   possa escapar. A resistência não se
                                             a história inteira e, ainda assim,   manifesta em gestos grandiosos,
            Mais do que relatar o mundo, «The   avançam. Entre contratos milioná-  mas em momentos discretos: uma
            Morning Show» expõe como ele é   rios, pressões editoriais e a ameaça   pergunta fora de guião, uma pausa
            moldado no próprio ato de o noti-  constante de serem substituídos,   carregada em direto, uma reporta-
            ciar. O estúdio não é apenas um ce-  a tentação de recuar é tão forte   gem que arrisca mais do que devia.
            nário televisivo: é um espaço onde   quanto a de enfrentar. É nesse lim-  Pequenas fissuras que expõem a
            a pressão das audiências, as estraté-  bo entre integridade e sobrevivên-  fragilidade de uma estrutura cons-
            gias políticas e os jogos de vaidade   cia que a série expõe o jornalismo   truída para controlar a narrativa.
            se cruzam. Cada emissão em dire-  como um ofício vulnerável, sempre
            to pode parecer leve, mas funciona   à beira de se transformar em espe-  Na quarta temporada, essa tensão
            como um ensaio de poder, capaz de   táculo.                       ganha novas camadas. A ascensão
            lançar ou destruir reputações em                                  da inteligência artificial coloca em
            segundos.                        Ainda assim, o silêncio nunca é   causa a própria credibilidade da in-




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