Page 104 - Revista Metropolis nº122
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COLATERAL
grande retrospetiva. Ele veio jantar com certeza que o Bambi ia morrer. Só que dar de opinião. O Robert Altman dizia a
o Martin, eu apareci e fiquei logo apa- a primeira vez que vi um filme que me mesma coisa. Tivemos de nos ajustar à
nhada pelo olhar dele, que mostrava o causou um enorme impacto foi mesmo nova maneira de trabalhar. Mas é verda-
amor que tinha pela vida, mas também «Os Sapatos Vermelhos». de que hoje posso fazer coisas que antes
pela sua inteligência, pela forma brilhan- não podia.
te como falava, que o Martin adorava. A sala de montagem hoje é completa-
Foi instantâneo, como uma chapada na mente diferente de há quarenta anos,
cara. quando se montava em filme. Como é
que se adaptou a estes novos tempos Dion Beebe
Lembra-se da primeira vez que en- do digital? Desde 2013 que, durante o Festival de
trou numa sala de cinema e viveu Thelma Schoonmaker: Sou péssima, Cannes, é entregue o Prémio Pierre An-
aquela experiência mágica? detesto montar em digital. Mas tenho génieux a um destacado diretor de foto-
Thelma Schoonmaker: Foi com «Os alguém maravilhoso que me ensinou grafia no cinema. O prémio leva o nome
Sapatos Vermelhos». Nunca me vou es- tudo e ainda trabalha comigo. Fiquei de um famoso inventor e fabricador de
quecer. Acho que tinha doze anos. Muita muito triste quando se passou para o lentes para cinema e já foi entregue a
gente da minha idade foi inspirada por digital, e ainda estamos tristes. O Martin mestres deste ofício como Philippe Rou-
esse filme. Mas lembro-me também de adorava andar de um lado para o outro sselot, Vilmos Zsigmond, Christopher
ficar tão assustada ao ver o «Bambi» na sala de montagem a pensar no que tí- Doyle, Ed Lachman, Agnés Godard, Da-
que tive de ir à casa-de-banho. Tinha a nhamos acabado de fazer e talvez a mu- rius Khondji ou BarryAckroyd. Este ano
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