A SkyShowtime estreou recentemente «Las Pelotaris 1926», o resultado de uma parceria entre Espanha e o México. A série baseia-se nas competições de “pelota” nos anos de 1920, pautadas pela diferença de condições entre homens e mulheres.
Embora a sinopse da série prometa uma história relacionada com a explosão do jogo de “pelota” entre competidoras femininas, «Las Pelotaris 1926» entrega uma história muito mais complexa do que isso. Há jogos importantes, mas também há machismo, violência doméstica, crime, amores proibidos e um preconceito generalizado. A trama desenvolve, assim, um contexto desportivo histórico, ao mesmo tempo que oferece uma história moderna e múltiplas storylines difíceis de resolver.
Idoia Rekalde (Claudia Salas, «Elite») é a figura mais destacada em Espanha, mas o seu sucesso nos campos esconde uma vida de traumas e decisões erradas, que têm consequências demasiado altas. Já Chelo Barbosa (Zuria Veja, «Que te perdone Dios») tenta alcançar os mesmos feitos no México, mas vê a sua carreira dificultada quando descobre que está grávida. Não obstante, conta inicialmente com o apoio de Itzi Galarrán (María de Nati, «Entrevías»), uma novata que parece mais focada na sua vida pessoal mal resolvida, deixando a carreira desportiva para segundo plano.
Apesar de inicialmente o centro ser o desporto, com jogos muito competitivos em evidência, a verdade é que rapidamente começam a surgir histórias secundárias, que vão aumentando a sua importância. Idoia coloca-se em risco, algo que irá impactar toda a temporada, enquanto Chelo tem um acidente terrível e Itzi procura reacender um romance antigo, já no País Basco. Numa luta dos sexos desigual, as jogadoras tentam traçar um caminho independente e, por fim, lucrar o que merecem.
Esta é uma história interessante que, mesmo ficcional, tem a capacidade de contextualizar e retratar um acontecimento desportivo que marcou sobretudo o desporto feminino. A “pelota basca” é uma referência também histórica, já que representa um romper de estereótipos e um “grito do Ipiranga” para a competição de mulheres, que provaram, a pulso, merecer ocupar um lugar importante. «Las Pelotaris 1926» é um drama que quer ser histórico, mas não seguir a história à risca – e é na sua liberdade criativa que desenvolve personagens complexas e entusiasmantes, cujo passo seguinte é quase sempre uma incógnita.
[Texto publicado originalmente na Revista Metropolis nº108, Julho 2024]