Num dos últimos dias antes das férias escolares, os pais do Armand e do Jon, ambos de seis anos, são convocados para uma reunião depois de um incidente entre os dois rapazes. A direcção da escola não sabe ao certo o que aconteceu: terá sido uma brincadeira de crianças ou algo mais grave? O episódio desencadeia uma série de eventos, causando uma batalha cativante, repleta de loucura, desejo e obsessão, entre os pais e os funcionários da escola.
SOBRE O REALIZADOR HALFDAN ULLMANN TØNDEL
Halfdan Ullmann Tøndel estudou Realização na Escola de Artes Westerdals. Deu os seus primeiros passos com a curta-metragem BIRD HEARTS (2015), que estreou em Karlovy Vary, em 2016.Foi nomeado para um prémio e seleccionado para a lista das melhores curtas europeias desse ano da Cineuropa. Em 2017, a sua curta FANNY foi nomeada para um prémio Amanda e entrou na mesma lista de melhores curtas europeias. Ambos os filmes passaram em festivais por todo o mundo. Em 2024, a sua primeira longa-metragem, ARMAND, com Renate Reinsve e Ellen Dorrit Petersen, teve estreia mundial no Festival de Cinema de Cannes, na secção Un Certain Regard

NOTA DO REALIZADOR
“Ouvi uma história de alguém que tinha feito um acampamento com a sua turma. Os alunos tinham seis anos, e tinha havido um conflito entre dois dos rapazes, quando de repente um deles se tornara muito agressivo e dissera algo que um menino normalmente nunca diria. Isso fez-me pensar onde e como o rapaz de seis anos teria aprendido aquele tipo de linguagem. Depois, a comecei a imaginar como seriam os seus pais e fiquei muito intrigado por conseguir fantasiar tanto acerca dos pais sem saber nada acerca deles nem do rapaz em questão, mas partindo apenas da informação do que tinha sido dito e feito. Também trabalhei muitos anos numa escola primária e experienciei como reflectimos as crianças relativamente aos seus pais, no bom e no mau sentido. E como todos os comportamentos (das crianças ou dos pais) que saíam ligeiramente da norma eram quase criticados e muito julgados. Acabou por se tornar óbvio que poderia fazer um filme a partir disto, onde poderia contar algo acerca da sociedade e de como lidamos com conflitos, mas talvez, acima de tudo, onde pudesse realmente explorar o conceito dos limites e de como nos relacionamos com eles. Achei que seria interessante e engraçado usar a ideia de algo ‘adulto’ que tinha acontecido entre duas crianças como base da história. Estava especialmente desejoso de escrever a cena em que Sunna, a professora, conta aos pais o que aconteceu. Como ficamos pouco confortáveis a falar sobre sexualidade no que toca a crianças, essas duas palavras não combinam propriamente, e isso torna-o divertido, mas também causa muita tensão. A exploração sexual entre crianças faz parte do processo de crescimento normal, mas, quando as crianças atingem uma certa idade, essa exploração anteriormente considerada normal pode começar a ser vista como desviante. Enquanto estivemos a fazer investigação para o filme, um dos directores com quem falei disse: “Brincar aos médicos deve acabar no infantário.” (Até inseri essa fala no filme.) E as crianças do primeiro ano que acabaram de sair do infantário? Deve ser muito confuso para uma criança haver algo normal num mês e que se torna um assunto criminal no mês seguinte. Para mim, era o cenário perfeito para a exploração dos limites, que é algo muito presente na nossa sociedade actualmente.

Quase todas as cenas no filme tratam situações com limites difusos e áreas cinzentas complicadas. Verdade ou mentira? Vítima ou agressor? Culpado ou inocente? Brincadeira ou violência? Alguma vez houve limites tão confusos entre o que está certo e errado, quando noções tão conflituosas estão tão próximas umas das outras? Hoje em dia, há um acesso mais forte e directo a figuras públicas do que antigamente, e sinto que essas pessoas são o epicentro deste terramoto ‘moral’ polarizado que estamos a testemunhar. Foi por isso que defini a personagem de Elisabeth (Renate Reinsve) como uma figura pública. Depois criei este incidente entre Jon e Armand que poderia ser totalmente inocente ou muito grave, dependendo da forma como o vemos e de como o escolhemos contextualizar. Com isso em mente, vi que o filme poderia retratar mais como nós, enquanto adultos, construímos as nossas próprias realidades para se adequarem à percepção das nossas identidades e das nossas vidas, em vez de ser uma história sobre dois meninos que tiveram um conflito, o que me interessava menos.