Se pudéssemos cruzar os thrillers psicológicos de Hitchcock com o mundo digital provavelmente teríamos algo muito semelhante a «Drop – Número Desconhecido», até o poster consegue fazer essa combinação entre o digital e a evocação dos clássicos do género. «Drop» é um cativante suspense cheio de twists e repleto de belos momentos à flor da pele.
O realizador Christopher Landon sabe debitar emoções fortes, escreveu «Paranóia» com um jovem Shia LaBeouf e assinou vários filmes da saga Atividade Paranormal sendo que o seu filme que ficou na retina foi a comédia de terror «Freaky».
O argumento de «Drop» ficou a cargo de Jillian Jacobs e Chris Roach que tinham no passado algumas desilusões («Verdade ou Consequência» e a prequela falhada «A Ilha da Fantasia») mas desta vez acertaram em cheio na fórmula.

A Blumhouse Productions não costuma deixar os créditos por mãos alheias e tornou-se uma power house do género, a produtora completa 25 anos recheados de grandes sucessos. Um dos aspectos mais interessantes da Blumhouse é a sua aposta em filmes que prezam pela sua originalidade (mesmo que reinventem/refresquem conceitos). Eles também são reputados pela liberdade criativa que é dada aos seus criadores, veja-se os recentes sucessos de box-office «M3GAN», «Five Nights at Freddy’s», «Não Fales do Mal» e os aclamados «Fragmentado» de M. Night Shyamalan, «Foge» de Jordan Peele e «BlacKkKlansman» de Spike Lee.
Por altura em que escrevo a crítica (a uma semana antes da estreia mundial), só posso fazer futurologia mas ficaria espantado se a fórmula da Blumhouse não voltasse a dar frutos: pequenos orçamentos com belos resultados de bilheteira. Independentemente do lado mercantilista (que é sempre fundamental para continuar a produzir filmes), o conceito de «Drop» é simples mas eficaz e as emoções fortes estão bem presentes numa trama que nos deixa com o coração aos saltos. É uma eficaz combinação entre o thriller, as interpretações sempre no limite numa lógica de acção/reação e a realização capta perfeitamente essa essência e amplifica o suspense.
Violet (Meghann Fahy) tem o seu primeiro encontro com Henry (Brandon Sklenar) num restaurante panorâmico no topo de um arranha-céus. Eles conheceram-se há três meses numa App de encontros e a forma honesta do perfil de Violet levou Henry a criar uma afinidade com ela. Violet tem um passado tumultuoso com um marido violento e vive sozinha com o filho pequeno, ela não tem vida amorosa. Quando Violet chega ao restaurante começa a receber mensagens por Airdrop, as primeiras mensagens são um pouco banais e depois começam a ser mais invasivas até que chega a intimação… Violet está a ser observada e escutada nos quatro cantos do restaurante e a sua rede de vigilância doméstica (para vigiar o filho que ficou com a irmã de Violet) foi sabotada e um indivíduo está no interior da sua casa. Violet não tem alternativa, tem de seguir rigorosamente as instruções das mensagens Airdrop ou arrisca-se a ficar sem o filho.

A acção decorre no mesmo espaço: o restaurante é o palco dos acontecimentos e a câmara desliza sobre o cenário. As mensagens surgem a um ritmo vertiginoso e o espectador é o único cúmplice desta aflição, ninguém sabe o que se passa com Violet…
É um jogo do gato e do rato com um casal atraente, um lugar fascinante e requintado, Violet está atônita, mas tem de encontrar forças para contrariar a ameaça invisível, manter o seu “date” e ao mesmo tempo não revelar nada sobre o que se está a passar.
Meghann Fahy e Brandon Sklenar sustentam muito bem a trama e são amigos da câmara. Temos alguns personagens secundários que só adicionam mais suspense aos acontecimentos e o realizador tem o prazer em utilizar estes diferentes players quase como um “whodunit”. A protagonista Meghann Fahy tem uma backstory, o seu passado vai sendo relatado em flashbacks ao longo do filme e percebemos que é uma sobrevivente criando uma empatia com a audiência.
O final da obra é de facto mais aparatosa, até podemos dizer que é contracorrente, mas depois de 90 minutos de alta tensão dentro de uma bolha é um prazer ver a heroína a libertar-se das amarras, esticar os seus músculos e a fazer disparar a adrenalina. Não percam este «Drop».
Título original: Drop Realização: Christopher Landon Elenco: Meghann Fahy, Brandon Sklenar, Violett Beane, Reed Diamond, Gabrielle Ryan, Ed Weeks Duração: 100 min. EUA, 2025