«Um Lugar Silencioso: Dia Um» é um excelente marco no terror de sobrevivência ao conjugar o cinema espectáculo com uma visão intimista da vida. O encanto do filme e desta saga reside nas histórias de estoicismo e na urgência das relações e sentimentos perante a ameaça dos monstros. As criaturas trazem o terror, mas é a necessidade de sobreviver e a contemplação da vida que nos deixa colados ao ecrã.
Após os dois primeiros “Um Lugar Silencioso” (realizados por John Krasinski) a fasquia estava elevadíssima através da conjugação do terror arrepiante com um drama familiar. Além disso, havia uma mecânica para subsistir à ameaça mortal onde o silêncio era a chave. Os aliens pressentem o espaço e o movimento através do som que se torna um radar para eles obliterarem tudo que se mexe. Os filmes são pura tensão em movimento abraçando uma espécie de cinema mudo onde as expressões físicas valem mil palavras.
Esta prequela aborda a chegada dos aliens a Nova Iorque, «Um Lugar Silencioso: Dia Um» mescla emoções fortes com a poesia da humanidade presente num ser luminoso interpretado por Lupita Nyong’o. A sua personagem, Samira, está condenada por um cancro terminal. É a sua viagem por Nova Iorque que vai determinar os acontecimentos do filme. É uma figura contra-corrente enquanto todos fogem da cidade Samira caminha em direção às memórias mais queridas da sua vida na sua adorada Nova Iorque. A interpretação de Lupita Nyong’o é simplesmente magnífica na expressão de uma personagem que se desmultiplica em emoções: o terror no seu olhar, a dor dilacerante, a amizade pelo próximo (Joseph Quinn) e o amor pelo gato Frodo (merece um Óscar para Gatos). E ainda sentimos inspiração na sua resiliência perante o destino.
«Um Lugar Silencioso: Dia Um» combina perfeitamente os momentos aterradores com as sequências mais introspectivas que adquirem uma beleza invulgar. É um blockbuster onde o thriller anda de mãos dadas com uma inequívoca sensibilidade da realização pelo espaço, pelos rostos e os pequenos momentos da vida. As sequências de acção não se tornam momentos fúteis de caos ao terror, a urgência de sobreviver catapulta o espectador para o meio do espectáculo mortal. É uma obra que possui o espírito do primeiro filme onde os sentimentos entre as pessoas continuam a comandar a narrativa.
Uma palavra para a cinematografia de Pat Scola com tons azulados e cinzentos que tornam as imagens do filme em momentos icónicos. O seu trabalho capturou a dualidade entre o terror de acção, a contemplação do espaço urbano e a angústia dos personagens.
A realização de Michael Sarnoski (vide o seu anterior trabalho «Pig – A Viagem de Rob», com Nicolas Cage) demonstra uma sensibilidade humanista no seio de um blockbuster. «Um Lugar Silencioso: Dia Um» é uma experiência incrível, John Krasinski bem pode estar orgulhoso do seu legado.
Título original: A Quiet Place: Day One Realização: Michael Sarnoski Elenco: Joseph Quinn, Lupita Nyong’o, Alex Wolff, Djimon Hounsou Duração: 100 min. EUA/Reino Unido, 2024
https://www.youtube.com/watch?v=chNkGNAeCI8&t=3s