A Asa comemora os trinta anos do lançamento da trilogia Filipe Seems com uma nova edição de um clássico da banda desenhada portuguesa, criado por António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva.
Os livros foram originalmente editados em 1993, 1994 e 2003, é uma trilogia que tem como virtude a intemporalidade. Segundo António Jorge Gonçalves “Os originais foram digitalizados de novo com tecnologia recente (permitindo melhor reprodução das cores), o texto foi revisto, novas capas e material inédito foi criado e algumas páginas tiveram de ser redesenhadas porque os originais tinham desaparecido”.

A trilogia tem como protagonista Filipe Seems, um escritor de bandas desenhadas animadas e detective particular. A acção desenrola-se num espaço de dez anos. Os primeiros volumes “Ana” e “A História do Tesouro Perdido” têm um lado mais convencional mas são muito mais do que um relato neo noir onde se cruzam os policiais pulp com a ficção científica e um brilhante twist de originalidade. O último tomo, “A Tribo dos Sonhos Cruzados”, é mais esotérico, aposta numa viagem da alma na procura do amor perdido numa Lisboa subterrânea.

No primeiro livro, “Ana”, temos um mistério com laivos de «Blade Runner» com uma femme fatalle à mistura. “Ana” é sinónimo de destino e jogo de ilusões e, claro, mistério e fábula futurista, onde as peças se encaixam de modo diferente a fim de criarem identidades diversas.

No segundo livro, “A História do Tesouro Perdido” testam-se outras fórmulas, produzindo uma vez mais uma brilhante aventura onde, de facto, tal qual esta trilogia, o importante é a viagem e não tanto o significado no final da história.

O terceiro livro, “A Tribo dos Sonhos Cruzados”, diverge radicalmente, em termos narrativos e de desenho – que se torna muito experimental – para capturar toda a convulsão da história e do período. O livro foi lançado no pós-11 de Setembro num período onde o mundo real e o nosso herói ficcional tentam se reencontrar.


Ao longo da trilogia nota-se muito o diálogo entre o imaginário e o real e a procura das dimensões mais contemplativas, diríamos, oníricas da história e do protagonista. O leitor está num espírito de constante descoberta onde encontra coisas maravilhosas que surgem “aparentemente” por puro acaso, embora saibamos que não há nada acidental na escrita de Nuno Artur Silva e na beleza cristalina e heterogénea do desenho de António Jorge Gonçalves.

A trama desenrola-se num futuro indeterminado, num cenário que queremos mergulhar a fundo, Lisboa, Sintra, a Costa da Caparica e a Linha do Estoril têm um look espantoso onde se combina o classicismo e o futurismo da capital com a (re)imaginação da cidade onde se cruzam naves, motas voadoras, balões de ar, gôndolas venezianas (no Terreiro do Paço) e teleféricos e elétricos que cruzam o céu da cidade. Para quem se lembra de Lisboa nos anos 1990, vê-los reinventados nesta história, há situações de premonição, como por exemplo, o comboio na ponte ou a paisagem urbana na avenida junto do Campo Pequeno, que entretanto se tornaram uma realidade. O leitor torna-se um turista que embarca na beleza da nossa cidade narrativa que tem dons labirínticos que se expressam no próprio desenho que combina vários estilos para criar espaços narrativos e atmosferas que tiram o pulso às emoções desta história.

A Trilogia Filipe Seems é intemporal e futurista, envolvente na trama, no desenho e no visual da cidade de Lisboa. É um tesouro que está novamente disponível para os amantes da banda desenhada.

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