O irlandês John Crowley («Brooklyn») realizou um filme que apresenta uma relação de um casal em três períodos distintos da sua existência. É um microcosmos a dois filtrado pelas alegrias e as tristezas, a paixão e a desilusão, a vida e a morte. «Todo o Tempo que Temos» não é nenhum dramalhão, é um filme que nos faz emocionar, rir e chorar.

A habilidade do argumentista Nick Payne e a realização de John Crowley colocam-nos no âmago da relação de Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield), um casal na casa dos 30. Através de uma habilidosa e orgânica montagem temporal (mérito da edição de Justine Wright) vamos sendo seduzidos pela montanha-russa de emoções entre Almut e Tobias no passado, presente e futuro desta relação desenrolada em Londres e no countryside britânico.

O filme tem um visual que transmite calor humano e afecto (realce para o talento na direção de fotografia de Stuart Bentley. Estes diferentes quadros familiares produzem um retrato completo e abrangente que forma a sua história e suplanta todos os inevitáveis desfechos. O espectador tem perante si um romance genuíno que deseja quebrar os lugares-comuns e ser uma ode à vida. Nesta obra ficamos com a certeza que é nos bons e maus momentos que se define o tempo que vivemos e serão estes que ficam para sempre na memória. A narrativa é um caso crónico em que não é importante como o filme termina mas como se chega e se vive até esse desfecho.


Ainda a ressalvar a bela composição sonora de Bryce Dessner (dos The National) e a presença de uma mão cheia de grandes temas da música britânica.

Nesta elegante visão do efémero, John Crowley transmite o lado imprevisível das relações e do ser humano por virtude da química natural dos seus protagonistas: Andrew Garfield e Florence Pugh. Garfield está a bom nível e volta a colaborar com Crowley após «A Rapaz» (o filme que lançou o realizador) e Pugh demonstra porque é uma das melhores actrizes da actualidade. A actriz é perfeita em todos os momentos, é um recital harmonioso onde ela desaparece para dar lugar a uma personagem autêntica e real. Florence Pugh deixa tudo no ecrã numa entrega total ao papel de Almut.

Os mais cínicos poderão considerar «Todo o Tempo Que Temos» um melodrama banal com o truque da narrativa fraturada a nível temporal, mas o filme suplanta essa abordagem pela força da vida e do amor de Almut e Tobias para se alojar no coração dos espectadores.

Título original: Realização: John Crowley Elenco: Andrew Garfield, Florence Pugh, Lee Braithwaite, Douglas Hodge, Adam James Duração: 107 min. França/Reino Unido, 2024

TODO O TEMPO QUE TEMOS
11 de abril | 21h30 TVCine Top

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