«Dune – Duna: Parte Dois» oferece-nos uma incrível experiência sensorial raramente sentida numa sala de cinema. O chão e o coração estremecem perante o arrojo visual e criativo de Denis Villeneuve. É o lançamento mais aguardado dos últimos anos. Mas valeu a pena esperar, o filme não desilude do ponto de vista visual.
A obra pega o fio à meada após a queda da Casa Atreides em Arrakis, um planeta explorado até à desolação pelo Império. O chefe do clã Atreides acreditava que o destino seria o entendimento com os Fremen (a população indígena de Arrakis) numa exploração equilibrada dos recursos naturais. Mas Arrakis tornar-se-ia um presente envenenado do Imperador a um clã que o regente considerava uma ameaça ao seu poder. Um novo personagem interpretado por Christopher Walken surge no papel de Imperador Shaddam IV e expande a trama e as intrigas de poder nesta saga.
O controlo da especiaria existente nas areias do deserto do planeta – a matéria-prima mais valiosa do universo – é a chave para o domínio absoluto. A “Parte Dois” centra-se na afirmação de Paul Atreides (Timothée Chalamet), um herdeiro dado como morto e elevado a Messias pelos Fremen. Estes acreditam no consumar de uma profecia que irá salvar o seu planeta. Paul é considerado pela sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), e por vários Fremen como o Tal, o salvador que irá mudar o curso da história. Paul procura uma nova ordem no universo perante aqueles que traíram e assassinaram o seu pai, o chefe da Casa Atreides. Inicia-se uma luta de guerrilha, a partir do deserto, face à Casa Harkonnen, os opressores de Arrakis e responsáveis pelo massacre da Casa Atreides.
O filme é a síntese da afirmação de um guerreiro e ascensão de uma mãe que é uma figura religiosa e uma temível estratega nas engrenagens do poder. A obra também se debruça nas difíceis escolhas do amor perante a crueldade e o calculismo dos homens. A mensagem mais ecológica do primeiro filme (inspirado no clássico homónimo de Frank Herbert) perde-se na “Parte Dois”. A luta neste filme é contra a opressão imperialista, a tirania e a brutalidade dos poderosos. Os oprimidos encontram no seu espírito, a coragem e a força para se elevarem, para realizarem o impossível ao serem comandados pela voz do mundo exterior.
O elenco é de luxo mas a história foca-se essencialmente em três figuras (Paul, Chani e Jessica) deixando os restantes personagens com uma caracterização mais superficial, o que é perfeitamente compreensível: Dune de Denis Villeneuve é um filme e não é uma série de televisão. A relação central entre Paul e Chani (Zendaya) frui e domina o filme mas lentamente é secundarizada por desígnios superiores. Timothée Chalamet e Zendaya são dois actores completos e talentosos, a poesia desaparece na relação dos seus personagens perante a vertente mais bélica da obra.
Importa sublinhar o trabalho de outra galáxia de Denis Villeneuve e a sua superlativa equipa artística, os efeitos especiais, o som, o design, o figurino e a música. A própria rodagem com câmaras IMAX transforma as imagens em momentos esplendorosos – sejam as paisagens do deserto (voltamos a sentir o calor no interior da sala), as batalhas coreografadas, a arena em Giedi Prime (o planeta “a preto e branco” dos Harkonnen), as cenas mais íntimas e (claro!) os vermes gigantes do deserto, tudo sequências que nos deslumbram perante a beleza em estado puro. É uma daquelas obras que não tem o mesmo efeito num ecrã de televisão… o filme parece só fazer sentido numa sala de cinema, ganhando uma expressão superlativa no grande ecrã.
«Dune – Duna: Parte Dois» em vários momentos faz-nos acreditar cegamente que o cinema é uma religião, com Denis Villeneuve a elevar este credo aos quatro cantos do Planeta Terra.
Título original: Dune: Part Two Realização: Denis Villeneuve Elenco: Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Javier Bardem, Austin Butler, Florence Pugh, Christopher Walken, Stellan Skarsgård, Charlotte Rampling Duração: 166 min. EUA/Canadá, 2024
OSCARS 2025
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