Uma noite. Dois corações solitários. Infinitas possibilidades. Depois de “O Perdão” (2021), os realizadores iranianos Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha assinam “O Meu Bolo Favorito” (“My Favourite Cake”), um drama sensível, filmado em segredo na sombra do regime iraniano, em louvor das mulheres, da vida e da liberdade. Verdadeiro acto de resistência, o filme é apresentado esta semana em antestreia no LEFFEST, antes de estrear a 12 de Dezembro nos cinemas.
“O Meu Bolo Favorito” conta a história de Mahin, uma viúva de 70 anos que vive sozinha, até decidir mudar a sua rotina solitária e reavivar a sua vida amorosa. Quando ela abre o coração ao romance, um encontro rapidamente se transforma numa noite inesperada… Baseada na realidade da vida quotidiana das mulheres de classe média no Irão, “O Meu Bolo Favorito” propõe um olhar íntimo sobre a solidão das mulheres quando entram numa idade mais avançada, através de uma história de esperança e felicidade.
Gravado em segredo na altura do movimento Woman, Life, Freedom que se iniciou em Setembro de 2023 depois da morte de Mehsa Gina Amini, “O Meu Bolo Favorito” é um acto de resistência. Os realizadores Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha denunciam que “há anos que os realizadores iranianos fazem filmes sob o peso de regras restritivas. Quebrar as regras pode levar a anos de suspensão ou proibição. Nesta situação deplorável, continuamos a tentar retratar a realidade da sociedade iraniana nos nossos filmes, geralmente perdida sob diferentes camadas de censura. Quebrar algumas destas restrições é uma escolha que fazemos na esperança de abordar a questão das mulheres iranianas. Acreditamos que já não é possível contar a história de uma mulher iraniana ao replicar a opressão, como acontece com o uso obrigatório do hijabe. As mulheres nunca puderam ver a sua vida pessoal retratada no ecrã, e desta vez decidimos ultrapassar os limites. Aceitamos as consequências desta escolha.”
“O Meu Bolo Favorito” foi exibido em estreia mundial na 74ª edição do Festival de Cinema de Berlim em Fevereiro passado, com a presença dos actores principais Lily Farhadpour e Esmail Mehrabi. Os realizadores Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, alvos de uma proibição de sair do Irão e de viajar por parte das autoridades iranianas, foram na altura representados por dois assentos vazios e uma fotografia.
Depois de uma breve interrupção, o governo iraniano restabeleceu em Setembro passado a proibição de viagens da dupla de realizadores, impedindo Maryam Moghaddam de comparecer à estreia do filme na Suécia. Numa carta aberta publicada no Instagram, a co-realizadora condenou as ações do governo. Até à data, a situação mantém-se.