«Mad Max: Estrada Furiosa» não podia ser mais surpreendente, uma obra genial em jeito de fantasia punk que desagua numa grandiosa ópera visual. Perfeito na sua execução está longe de ser mais do mesmo com uma complexidade estética onde as imagens respiram e falam por si servindo de cenário glorioso a Tom Hardy e Charlize Theron, dois dos melhores actores da actualidade.
George Miller, aos 70 anos, conseguiu criar um novo clássico com o personagem Max Rockatansky (Tom Hardy) numa brilhante reinvenção 30 anos depois, o original data de 1979. A maior ironia desta obra passa pelo facto de ser Charlize Theron como Imperator Furiosa, que roubar a luz da ribalta a Tom Hardy, o personagem titular da obra, o espectador assiste ao nascimento de uma personagem ícone. Embora ambos actores levem o filme a bom porto, graças a um entendimento subliminar, as emoções andam de mãos dadas com sangue, suor e lágrimas. O objecto é lacónico, no enredo e nos diálogos, as motivações dos personagens advêm de uma revolta interior que conduz a narrativa no desejo de vingança, redenção, a ascensão aos céus ou a descoberta da esperança.
Num mundo violento e cínico os nossos anti-heróis descobrem a sua humanidade numa terra inóspita. Max foge aos fantasmas do passado e Furiosa outra procura o éden perdido ao tentar regressar aos “jardins verdes” de onde foi capturada quando era jovem levando consigo Max (por acidente) e cinco mulheres “reluzantes e cromadas”, as parideiras da descendência de Immortan Joe. Um vilão com estatuto divino que reina o seu antro através do terror e do fanatismo, é interpretado com carisma por Hugh Keays-Byrne, um repetente da série.
O filme é fértil em criaturas bizarras e está carregado de números de circo em tempo real que se constroem invariavelmente sobre rodas com inúmeras acrobacias e stunts. A “máquina de guerra” é o centro da acção, numa espécie de camião TIR com dois motores V8 conduzido por Furiosa, que atravessa a aridez do deserto para escapar a um conjunto de psicopatas em todo tipo de rodas. Os mesmos são auto-denominados “war boys”, elementos de uma seita pseudo religiosa que acredita que o sacrifício derradeiro pelo déspota Immortan Joe é uma “via verde” para o paraíso.
Neste tratado de heavy metal, uma perseguição alucinante que dura 120 minutos, os 150 milhões de dolares de produção foram utilizados até ao último penny, as imagens são quadros para a posteridade. O trabalho de arte e caracterização é decisivo na criação de uma nova mitologia virada para os espectadores deste milénio. A rodagem decorreu no deserto da Namíbia, o trabalho de fotografia proporciona imagens de cortar a respiração sejam em momentos de “acção” ou sequências de pura contemplação. A direcção de fotografia pertence ao experiente John Seale («O Paciente Inglês», «Encontro de Irmãos»).
A experiência sonora é uma trip para os nossos ouvidos, dos efeitos sonoros à orquestração, que combina o clássico com o industrial, som é uma presença activa no filme.
Em IMAX, a combinação 3D com o som e a imagem XXL deixam-nos boquiabertos. Prevê-se que o filme só esteja duas semanas neste formato em Portugal – um atropelo ao espectador – não percam a possibilidade de sentir «Mad Max: Estrada Furiosa» em toda a sua magnificência em IMAX.
«Mad Max: Estrada Furiosa» é avassalador, uma imparável avalanche de acção aliada a imagens de pura arte cinematográfica. Um claro exemplo de um blockbuster que se assume como um objecto de arte no novo milénio. Venha o próximo!
Título original: Mad Max: Fury Road Realização: George Miller Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Zoë Kravitz, Riley Keough, Nicholas Hoult, Rosie Huntington-Whiteley Duração: 112 min. Australia/EUA, 2015
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº29, Julho 2015]
https://youtu.be/hEJnMQG9ev8