«Distrito 9» é original e surpreendente com corpo de uma super produção e com a alma de um filme independente, um blockbuster intimista a lembrar o fulgor dos primeiros trabalhos de Spielberg. Uma nave paira sobre a cidade de Joanesburgo, a bordo, milhares de aliens infectados por um vírus, assemelham-se a insectos gigantes de vários tons e feitios, não vieram conquistar a Terra ou trazer uma mensagem de esperança, chegam à procura de abrigo mas a sua fraqueza torna-os vítimas segregadas num bairro de lata onde vivem em condições sobre-humanas. O enredo revolve em torno de Wikus, um “papelão” do sul-africano Sharlto Copley, um burocrata passivo que numa acção de despejo é contaminado e inicia a metamorfose, o seu corpo transforma-se num alien e ele num bode expiatório, deixa de ser o caçador e passa a ser presa. A narrativa avança, de câmara ao ombro, em paralelo com um documentário ficcional que enquadra os acontecimentos, a discriminação dos aliens, o outsourcing das corporações e o terrorismo noticioso. A acção é furiosa e vai buscar intensidade aos videojogos, os efeitos são eficazes e, não estão num pedestal, fazem-se mundanos na forma como apresentam os aliens como partes integrantes da paisagem visual. O enredo aborda de forma universal a alegoria social, racial e política, se substituirmos os aliens por pessoas o efeito é o mesmo «Distrito 9» toca no interior dos personagens onde se descobre por debaixo das carapaças sentimentos comuns a insectos e humanos, uma admirável confluência entre género, sentimento e sensações numa incrível demonstração entre realismo e ficção.
Título original: District 9 Realização: Neill Blomkamp Elenco: Sharlto Copley, David James, Jason Cope Duração: 112 min. África do Sul/EUA/Nova Zelândia, 2008
[Texto originalmente publicado na revista Premiere, Fevereiro 2010]
https://www.youtube.com/watch?v=DyLUwOcR5pk