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A GEOGRAFIA EMOCIONAL DAS VIDAS QUE NÃO VIVEMOS

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            deixamos de amar. Cada universo   confere à série um ritmo fluido e   ficção especulativa num exercício
            não é apenas um cenário alternati-  envolvente, capaz de alternar entre   de introspeção emocional, a série
            vo, mas um espelho emocional que   a leveza e a profundidade sem que a   lembra-nos que cada escolha, por
            obriga a protagonista, e o especta-  narrativa se torne previsível ou ex-  mais insignificante que pareça,
            dor, a interrogar as escolhas feitas   cessivamente conceptual. O resul-  encerra em si um universo intei-
            e as vidas que ficaram por viver.  tado é uma experiência intimista,   ro de consequências e versões al-
                                             quase  contemplativa,  que  desafia   ternativas de nós próprios. Com
            A estrutura narrativa de «Prazeres   as convenções do género ao trans-  uma abordagem intimista e uma
            Paralelos» acompanha a própria   formar a ficção especulativa num   linguagem visual contida ao servi-
            lógica fragmentada das realidades   espaço de introspeção emocional.  ço da narrativa, Zoe Lister-Jones
            que explora: cada episódio fun-                                   constrói uma obra singular que
            ciona como uma nova janela para   A série conta com a participação de   transcende o mero romance ou a
            uma versão alternativa da vida de   atores como Tymika Tafari, Whit-  fantasia para se afirmar como um
            Mae, sem nunca perder de vista a   mer Thomas, Amar Chadha-Patel e   ensaio televisivo sobre identidade,
            coerência emocional que une todas   Emily Hampshire, entre outros.  desejo e autoconhecimento. No fi-
            essas possibilidades. Zoe Lister-Jo-                              nal, a viagem de Mae não é apenas
            nes equilibra com mestria o drama   «Prazeres Paralelos» é, acima de   pelos mundos que poderia habitar,
            existencial com momentos de hu-  tudo, uma reflexão delicada e pro-  mas também por dentro de si mes-
            mor subtil, criando um tom híbri-  vocadora sobre as infinitas pos-  ma; e é nesse espelho que «Praze-
            do que espelha a confusão interior   sibilidades que compõem a expe-  res Paralelos» encontra a sua ver-
            da protagonista. Este equilíbrio   riência humana. Ao transformar a   dadeira força.



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