Page 151 - Revista Metropolis nº122
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AGENTES NO FIO DA NAVALHA
DISNEY+
oxigénio sem virarem espetáculo tos; o idealista que ainda acredita ca forma de avançar. O timing é ci-
paralelo. Há nomes como Veroni- que mérito e timing se alinham; rúrgico – olhares que duram meio
ca Ferres, Iris Berben, Moritz Blei- a veterana que conhece todos os segundo a mais, um suspiro que
btreu, Heike Makatsch, Frederick atalhos – e cobra com juros quan- comunica – e isso dá humanida-
Lau ou Samuel Finzi – quase sem- do é preciso. Entre eles, a dinâmi- de a personagens que podiam ser
pre versões ligeiramente exagera- ca é o motor: alianças de ocasião, apenas estereótipos.
das de si próprios, com caprichos fricções antigas, lealdades tes-
credíveis (do pedido impossível tadas quando um cliente grande No fim, «Call My Agent Berlin»
à sensibilidade ferida). O efei- abana… A chefia da agência im- impõe-se como retrato sóbrio de
to não é “olha quem apareceu”, é põe o compasso, enquanto quem um ofício que vive de apagar fo-
“olha o problema que temos para está no terreno dá a cara e tenta gos com uma mão e fechar con-
resolver”: agenda, cláusulas, im- resolver todo o tipo de questões. tratos com a outra. Não reinven-
prensa, redes sociais, tudo parece ta a roda, mas troca o brilho pelo
prestes a colidir. O humor é de fricção, não de pun- método e encontra aí a sua força:
chline. Nasce do choque entre o agentes a gerir danos, clientes a
No centro estão os agentes, cada que é pedido e o que é possível, testar limites e uma cidade que
um com uma forma distinta de do contrato que desmente a pro- dita o compasso. Falha pontual-
sobreviver ao caos: o pragmático messa, do produtor que muda o mente na repetição e na pressa
que faz contas antes de prometer briefing a meio. Há ironia e uma das resoluções, mas compensa
o impossível; a negociadora que lê melancolia discreta que impede o com credibilidade, química e um
salas e egos como quem lê contra- cinismo fácil: ri-se porque é a úni- humor bem conseguido.
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