Page 95 - Revista Metropolis nº118
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ENTRE O FASCÍNIO E A PRISÃO






          marcada por emoções contraditó-    «Sirens», a nova série da Netflix,   superfície e a confrontar as zonas
          rias. Por um lado, a preocupação   mergulha de cabeça no emara-     menos claras das emoções huma-
          genuína; por outro, o ressentimen-  nhado sombrio das relações fami-  nas.
          to provocado pelo afastamento e    liares para revelar um universo
          silêncio do pai – que teve eco nas   onde o poder, a manipulação e o   No  epicentro  da  trama  está  a
          filhas. Esta dinâmica contribui    carinho se entrelaçam (e confun-  complexa relação entre as irmãs
          para a carga emocional da série,   dem) numa dança tensa e impre-   DeWitt e a enigmática Michaela
          mostrando como cuidar de alguém    visível. Na mansão Kell, o luxo e a   Kell. O tridente Devon, Simone e
          pode ser, simultaneamente, um ato   aparência escondem um jogo psi-  Michaela personifica diferentes
          de amor e um confronto com feri-   cológico subtil – mas óbvio para   faces do mesmo conflito: a luta
          das antigas. A sua presença na nar-  os  olhares  menos  comprometi-  entre  autonomia  e  submissão;
          rativa simboliza o peso do passado   dos –, onde cada gesto e palavra   amor e posse; verdade e ilusão.
          e a dificuldade de conciliar cuidado   carregam significados ocultos. A   A força da narrativa reside na
          e afeto numa família marcada por   série não se limita a contar uma   sua capacidade de explorar essas
          manipulações, conflitos internos e   história de controlo: desafia o   dinâmicas com uma sensibilida-
          traumas não resolvidos.            espectador a olhar para além da   de crua, mostrando que, por ve-





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