Page 89 - Revista Metropolis nº118
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R. MACALL POLAY/NETFLIX © 2025
teia de mentiras, desejos e pressões são carrega o peso de consequên- e os segredos obscuros que ali se
invisíveis, a linha que separa a ver- cias imprevisíveis, e as dinâmicas escondem. «Sirens» desafia a perce-
dade da ilusão torna-se cada vez familiares tornam-se, ao mesmo ção do espectador, revelando pro-
mais ténue. Em «Sirens», o poder tempo, a maior força e a maior vul- gressivamente que o esplendor do
não se exerce apenas pelo contro- nerabilidade. O equilíbrio entre cenário é, na verdade, a superfície
lo externo, mas pela capacidade de querer salvar quem amamos e o de uma complexa rede de manipu-
moldar perceções e sentimentos, risco de nos perdermos no processo lação e vulnerabilidade emocional.
deixando as vítimas presas numa cria uma tensão constante na nar-
luta interna. É neste terreno instá- rativa, sendo que o perigo não está «Sirens» apresenta um retrato cru
vel que a série se desenrola, explo- apenas nas ações externas, mas e sofisticado das zonas cinzentas
rando as fragilidades humanas e o nas dúvidas e medos que corroem das relações humanas; onde amor e
preço, muitas vezes silencioso, de por dentro. controlo, confiança e manipulação
enfrentar os próprios demónios. coexistem numa tensão constan-
A dualidade entre aparência e rea- te. A série revela que a verdadeira
No centro deste jogo psicológico, lidade é uma das forças motrizes libertação surge apenas quando
a luta entre proteção e perdição da narrativa. A mansão Kell, com o a verdade, por mais dolorosa que
desenrola-se num ambiente onde seu luxo ostensivo e ambiente apa- seja, é finalmente confrontada, ex-
sentimentos de confiança e traição rentemente perfeito, contrasta for- pondo as fraquezas que todos car-
caminham lado a lado. Cada deci- temente com as tensões invisíveis regam.
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