[Disponível na (Amazon) Prime Video]
Do realizador israelita Yuval Adler (“Belém”), “Encontro Infernal” recorre às táticas de carjacking para se posicionar num conflito entre estados, não apenas entre as duas personagens; Joel Kinnaman como um homem soturno e Nicolas Cage como um diabólico desconhecido, como também entre duas performances antípodas, de um lado um discreto e contido e do outro (previsivelmente) o histriónico e excêntrico Cage a fazer das suas. Esta água e vinho são agitados num cocktail que caminharão o thriller para malabarismos ora bem mais interessantes do que se poderia supor.
Foi no trajeto para a maternidade, a fim de estar ao lado da sua mulher em trabalho de parto, que a personagem de Kinnaman é “sequestrado” por um estranho, que entra na viatura sem mais nem menos, solicitando a escolha de um naipe do baralho. O Ás de Espadas é a resposta e, a partir daí, durante a noite, entre diálogos agressivos e um mistério cerrado sobre como aquele encontro se concretizou, conduzirão, mais do que a dupla, o espectador a um tipo de filme hoje em dia espremido entre transgressões artísticas ou a banalidade da fórmula, hoje em dia a mando do consumo rápido das plataformas de streaming. Portanto, de forma mais direta, não é difícil encarar este “Encontro Infernal” como um filme perdido no seu tempo, com resquícios de um aluno distraído das aulas de Michael Mann (mesmo que a premissa tenha um ar déjà vu a “Colateral”, de coiotes inexistentes), que se deixa envolver durante a noite adentro, por diners perdidos em “nenhures”, pela violência com rasgos de animalidade e da iluminação escassa vinda do artificialismo das luzes de faróis ou dos placares luminosos, engodos em tela à beira da estrada.
Adler construiu uma obra nesse sentido, simples, sorrateiro e energético, um jogo de quem “grita mais em horas de bruxedos”. É uma daquelas pequenas surpresas que abrem alas para thrillers hoje decretados na lista ameaçada de extinção, de pretensões limitadas ao seu universo fechado e ambíguos até à última reviravolta. Todavia, fora isso tudo, é mais um “Nicolas Cage show”, reunindo o que de bom e de mau se extrai da sua presença. Existem poucos atores assim nesta atualidade incerta!
Título original: Sympathy for the Devil Realização: Yuval Adler Elenco: Nicolas Cage, Joel Kinnaman, Alexis Zollicoffer Duração: 90 min. EUA/Reino Unido/Países Baixos, 2023