O Multiverso chegou em força ao Universo Cinematográfico Marvel (UCM) e o Doutor Estranho serve como cicerone para mostrar este novo capítulo. Na história, o herói tem de lidar com uma grande ameaça para o Multiverso, com consequências imprevisíveis. Para poder ajudá-lo na sua tarefa, pede ajuda a Wong e a Wanda Maximoff, ela própria ainda a lidar com os acontecimentos narrados na série «WandaVision» (2021). Pelo meio, Strange ainda se cruza com uma jovem que tem um papel crucial nesta fase, já que tem o poder de viajar entre diferentes realidades.
O UCM tem mostrado uma boa dose de versatilidade, ao contar com vários realizadores e perspetivas díspares, como Taika Waititi, Ryan Coogler, James Gunn ou Chloé Zhao. Com «Doutor Estranho no Multiverso da Loucura» denota-se ainda mais arrojo, com a introdução do terror na saga. Para tal, a Marvel chamou Sam Raimi, responsável por «A Noite dos Mortos-Vivos» (1981), mas também os primeiros filmes do Homem-Aranha, pelo que não é, de todo, uma novidade nos filmes de super-heróis. Raimi tem já uma carreira longa, mas a mente continua bem fresca, e a sua realização é um dos aspetos mais valorosos neste novo filme. É certo que não é propriamente um filme de terror, mas tem vários elementos do género, incluindo algumas referências aos clássicos, encaixando perfeitamente na narrativa.
Benedict Cumberbatch tem mais uma interpretação segura enquanto Doutor Estranho, mas o filme é de Scarlet Witch. Wanda reinvindica para si, finalmente, o posto como uma das personagens mais poderosas da saga – senão mesmo o lugar cimeiro. Transtornada pelo sofrimento e constante descoberta de si mesma, Scarlet Witch rouba o protagonismo ao longo de toda a obra. O percurso de Wanda é um dos mais complexos do UCM e Elizabeth Olsen não desperdiçou a oportunidade de mostrar a evolução da sua personagem em «Doutor Estranho no Multiverso da Loucura», tal como já tinha feito nos filmes anteriores e sobretudo na série à qual Wanda dá nome. Contudo, tal não deixa de levantar algumas dúvidas pelo rumo narrativo escolhido na abordagem à personagem.
«Doutor Estranho no Multiverso da Loucura» não é o melhor filme da saga, que ainda parece não ter reencontrado o tom certo após o épico «Vingadores: Endgame» (2019). De qualquer forma, tem vários momentos que são um deleite para os fãs, com o recurso às surpresas que o multiverso proporciona e que aqui é bastante aproveitado. A nova obra é, por isso, interessantemente estranha, sobretudo por explorar um novo género, numa perspetiva refrescante que se quer numa saga tão intrincada e cheia de história(s).
Título Original: Doctor Strange in the Multiverse of Madness Realização: Sam Raimi Elenco: Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen Chiwetel Ejiofor, Benedict Wong, Xochitl Gomez Duração: 126 min. EUA, 2022
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