No seu 15º filme, Ferzan Özpetek convida 18 atrizes – a maioria já trabalhou com ele noutros filmes – a entrar na sua casa, durante um fantástico almoço onde todos estão à mesa, enquanto passam tabuleiros de verdadeira lasanha italiana e o realizador assume que tem algo a sugerir-lhes.
Durante o mesmo, uma das convidadas pergunta-lhe o que pretende fazer com tamanho “vaginódromo”, tal é a quantidade de mulheres que pretende juntar num filme. À medida que a reunião da leitura de guião avança, realizador e atrizes são transportados para os anos de 1970, para um atelier de figurinos num palacete antigo onde o barulho das máquinas de costura dá vida ao espaço e ao reboliço de um local de trabalho gerido e ocupado por todas estas mulheres.
Com a premissa da criação de figurinos para um filme de grande importância passado no século XVIII, o atelier gerido por duas irmãs completamente opostas – uma determinada e pragmática, a outra mais frágil e atormentada por um evento fatídico – interpretadas por Luisa Ranieri e Jasmine Trinca, entra uma azáfama com pouco tempo para a entrega da encomenda. A figurinista (Vanessa Scalera) é vencedora de um Óscar e não pode falhar esta missão, e o realizador (Stefano Accorsi, também no seu quarto filme com Ozpetek) é extremamente exigente e não tem tempo a perder.
Numa cinematografia que não falha o pormenor, somos envolvidos na vida destas mulheres que escondem os seus segredos mais pessoais, enquanto respondem afirmativamente a todos os desafios e ordens da intolerante Alberta (Luisa Ranieri). Entre violência doméstica de um marido machista, a um filho que simplesmente não quer abandonar o quarto e ir à escola, até à mãe solteira que não tem como fazer face às despesas, sem esquecer a perda de uma filha ou o desencontro de um grande amor, estas mulheres partilham mais do que a vida do dia a dia de trabalho.

Ferzan Özpetek não é exigente na complexidade dos diálogos nem muito misterioso na narrativa, mas faz neste filme um profundo exercício de sororidade. Traz-nos o mais belo sentimento de irmandade entre mulheres e mostra-nos a grandiosidade da vulnerabilidade. As mulheres são os verdadeiros diamantes, numa sociedade que impõe determinados códigos limitativos e intransigentes. São diamantes porque não quebram, mesmo quando caem, e na união encontram a sua maior força.
Há algo de essência do cinema italiano neste filme de Özpetek. É um regresso a casa do próprio realizador quando trabalhou como assistente de realização e frequentava ateliers de figurinos para cinema e teatro. Mas é também uma visita guiada à vida, aos caminhos já percorridos, aos acasos que mudam vidas, ao amor verdadeiro que nunca acaba, ao poder da comida italiana enquanto agregador de pessoas e de histórias à volta de uma mesa, sem esquecer a beleza dos figurinos, dos tecidos e da criatividade. Como diz uma personagem durante o filme: “Somos formigas. Ninguém dá por elas, mas juntas são tudo”. Se calhar, como as formigas, poucos darão por este filme, mas talvez todas as mulheres (e homens) devessem vê-lo, para relembrar que quando nos juntamos e acreditamos que o sucesso de um pode ser a vida de todos, fazemos a diferença, e de não sermos nada, passamos a ser tudo. Como mulheres, mas acima de tudo, como seres humanos.
Título Original: Diamanti Realização: Ferzan Özpetek Elenco: Luisa Ranieri, Jasmine Trinca, Stefano Accorsi Duração: 135 minutos País: Itália 2024