O embaraço da Disney! Podemos afirmar, sem julgamentos, que o estúdio treme com esta produção nas mãos. O que fazer com um live-action de «Branca de Neve» [«Snow White»], o remake da sua mais valiosa gema e um dos pioneiros da história da animação, reconhecendo o acumular de polémicas que se vão ‘encavalitando’? Choque para os fiéis quando perceberam que os anões — os sete, sim — foram substituídos por “criaturas mágicas”, palavras do estúdio, não nossas, como se regista uma ode à diversidade e multiculturalidade humana. Peter Dinklage, conhecido pelo seu papel em «Guerra dos Tronos», criticou publicamente a opção, lamentando a oportunidade perdida de o estúdio empregar sete pessoas com nanismo. Depois, seguiram-se as polémicas em torno das atrizes Rachel Zegler, a Branca de Neve, e Gal Gadot, a rainha maléfica, cada uma delas com as suas próprias controvérsias: a jovem estrela (“descoberta” por Steven Spielberg na reinvenção desnecessária de «West Side Story») desprezou o legado da animação, acusando-o de ser obsoleto, e renegou o historial do conto em nome da exaltação da emancipação feminina; já a antagonista “molhava-se à chuva” com as suas opiniões sobre o conflito israelo-palestiniano. Com receio de um tremendo flop, devido ao crescente backlash, a Disney adiou a produção e, segundo notícias, novas refilmagens esculpiam o projeto, principalmente retrocedendo na decisão da isenção de anões, agora de regresso, mas em puro CGI, sob a desculpa de fidelidade estética à animação original. Após anos de falatório e expectativa, eis que nos chega o filme, aquele que já é considerado o grande “pedregulho no charco” da Disney. Completamente artificial, morto à nascença — desde os desempenhos até à sua imagética, por vezes copiosamente colada ao filme-mãe — e mesmo as liberdades artísticas revelam-se pouco livres. São algoritmos em brincadeira, um joguete para serem levados a sério perante uma evidente infantilização do espectador (os diálogos são de uma puerilidade atroz). Não nos deteremos agora na velha questão do porquê de refazer estas animações, cujo resultado são ‘coisas’ insignificantes e irrelevantes para a nossa História, mas, estando em marcha um plano de substituição do classicismo pelo imediato, a Disney prossegue no seu canibalismo criativo. «Branca de Neve» [«Snow White»] parece até fazer de propósito para ser indulgente, indigesto e esquizofrénico — sem personagens, sem humanidade e sem carne.
Título Original.: Snow White / Realizador.: Marc Webb / Interpretes.: Rachel Zegler, Gal Gadot, Andrew Burnap / País de Origem.: EUA / Ano.: 2025 / Duração.: 109 min