Excessivamente comparado com a revelação de Robert Eggers – «A Bruxa» – «A Sereia da Noite», a segunda longa-metragem de Tereza Nvotová («Filthy»), é um disfarçado folk horror cujo seu coração demonstra algumas batidas de provocação (leia-se ativismo). Este é o seu ponto forte como também fraco, o de ser constantemente reduzido nessas “agendas” e nunca persistir verdadeiramente naquilo que o género de terror sempre nos pontuou na sua génese, abordar temas sociais e políticos no encanto da sua “fantasia”. Aliás, «A Sereia da Noite» parece-nos demasiado focado na sua mensagem, e esquece por vezes da atmosfera, que ocasionalmente capta (com auxílio da fotografia de Federico Cesca), uma espécie de esoterismo sexual, que é de seguida capado pelo retrato profundo e proto-medieval do Patriarcado, esse inimigo que persegue desde a sua verde idade a nossa protagonista Sarlota (Natalia German). Só que essa fraqueza no calcanhar é também a sua projeção, é o que lhe adquire identidade, forma e barriga, o palco centrado para a atriz fazer uso do seu corpo, das suas convulsões, determinadas como um ato de resistência. É no limite que se encontra o lado fílmico desta obra eslovaca, e de igual maneira a sua não-subtilidade. Histórias de bruxas, e de encantos, como a que o título sugere, a de sereias, “comedoras-de-homens” em terra firme, ou melhor, em bosques negros e assombrados pelas “tradições” de dificil morte, uma figuração que nos guia por uma espécie de xamanismo. Poderá ser apenas novas expectativas perante um bom uso do cinema de género, contudo, e parece ser cada vez mais uma questão geracional, perde-se a graciosidade, fia-se, quase como religiosamente naquilo que o filme discursa, e não o que a estética (leia-se formalismo) emana. E por vezes é isso que os encalhe, esse cinema que deseja revolução, mas fica-se pelo mediatismo.
«A Sereia da Noite» é um exemplar que teria magia para mais, mas preferiu outros feitiços, e que mesmo assim a reservam um fascínio na sua possibilidade, não a limitarmos por esse pejorativa designação de “filme de agenda”, visto que no seu meio encontra-se um filme que nunca veremos e que palpitações batia para emancipar-se.
Título original: Svetlonoc Título internacional: Nightsiren Realização: Tereza Nvotová Elenco: Natalia Germani, Eva Mores, Juliana Olhová Duração: 106 min. Eslováquia, República Checa, 2022