Page 203 - Revista Metropolis nº122
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A PIANISTA
TÍTULO ORIGINAL
A Pianista
REALIZAÇÃO
Nuno Bernardo
ELENCO
Teresa Tavares
Miguel Borges
Gonçalo Almeida
ORIGEM
Portugal
DURAÇÃO
98 min.
ANO
2025
No cruzamento entre lembrança, luto, dependência de um clone. Mas será Jorge igual à lembrança? Ou
emocional e evolução tecnológica, «A Pianista» haverá novos segredos a revelar numa segunda vida?
(2025) ergue um cenário q.b. futurista, numa
pequena localidade alentejana, para rapidamente o Na sobreposição entre o futuro possível, mas não
recentrar no mais misterioso dos “microcosmos”: o longínquo, e a rotina do presente, «A Pianista»
comportamento humano. recupera narrativas e temas que vemos, por
exemplo, na série «Black Mirror», trazendo-os para
Ana (Teresa Tavares) é a personagem central de um um contexto nacional. No entanto, os dispositivos
drama que oscila entre o thriller e o (muito ligeiro) futurísticos (narrativos e tecnológicos) são
sci-fi. Viúva recente de Jorge (Miguel Borges) e mãe rapidamente abandonados, em prol de uma história
do adolescente Pedro (Gonçalo Almeida), Ana tentar que vai navegando noutras intenções.
retomar a sua vida, marcada agora pelo luto. A partir
de um piano em segunda mão, que resgata e manda Tal como as teclas do piano de Ana, o realizador
compor, a ex-pianista traça novos planos para Nuno Bernardo constrói espaços de presença e
começar a dar aulas de música. ausência, texto e subtexto, branco e preto. É uma
melodia entre o que está relevado e escondido, mas
Tudo parece seguir em frente, no ritmo habitual que que deixa muitas notas de fora e, por isso, nunca
não se compadece com lutos e perdas. Até que uma chega a convencer totalmente. Destaque para a atriz
empresa de clonagem – prática recém-autorizada no Teresa Tavares, irrepreensível no seu retrato de uma
país – contacta Ana com uma proposta inusitada: mulher entre o luto, a solidão e a dúvida.
trazer de volta Jorge. A possibilidade é tão
questionável, como tentadora. Talvez por isso, Ana «A Pianista» teve estreia mundial no MOTELX:
rejeita de imediato os contactos da empresa, para Festival Internacional de Cinema de Terror em
depois acabar por ceder e abrir caminho à chegada Lisboa. MARISA VITORINO FIGUEIREDO
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