«En Fin» tinha tudo para ser uma série Apocalíptica… não fosse o mundo não acabar. Na nova série espanhola da Amazon Prime Video, a sociedade tem de se reorganizar após a vida continuar, contrariando todas as previsões.
Tomás (José Manuel Poga) está envolvido num grande problema: depois de deixar a família para viver uma vida “louca”, percebe que o mundo afinal não acabou e agora o regresso levanta várias questões. Mas não é caso único: várias pessoas deixaram as suas famílias para aproveitarem ao máximo os últimos dias da Humanidade, perante a ameaça de um planeta que se preparava para chocar com a Terra. Só que ele não chocou e começou a afastar-se.
Os recursos são escassos, a organização social está caótica e os arrependimentos acumulam-se. Muito apoiada na ironia e no exagero, «En Fin» explora o dia a dia de um conjunto de personagens comuns, que tomaram decisões impulsivas e têm, após o mundo não acabar, de viver com elas. E os supostos sonhos que tinham, e que viveram de forma exuberante, parecem menos relevantes do que no passado. Mas também os perigos que se apresentavam inofensivos perante o fim de tudo, ganham novamente uma grande dimensão.
Criada por Enrique Lojo e David Sainz (este assume também o papel de realizador), «En Fin» enfatiza, também, o consumismo e a valorização do material e do prazer, em detrimento do lado emocional e familiar. Sem uma linha narrativa rígida, a série vai navegando pela realidade “banal” de Tomás, da sua mulher Julia (Malena Alterio) e da filha Noa (Irene Pérez), à boleia de intervenientes secundários hilariantes. A crítica, até quando silenciosa, é audível para o público pela construção do argumento e da realização, trazendo à superfície o lado ridículo e egoísta de vários elementos.
Sarcástico, mas inteligente, o argumento de «En Fin» é uma das principais forças da trama, seja pelo enquadramento dos acontecimentos, seja pela interação entre as personagens. Fácil de ver, «En Fin» mostra o lado mais imprevisível do Apocalipse: quando ele não acontece. Depois da perda, provocada pela vontade de aproveitar tudo ao máximo sem depender de ninguém, será possível recuperar alguma normalidade? Não só familiar, mas também social – poderá haver ordem depois do caos?