Page 59 - Revista Metropolis nº71
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J’ACCUSE



 REALIZAÇÃO  Veneza concedeu o Grande Prémio do Júri ao tão esperado filme de Ro-  escândalo que assolou França no fim do século XIX. Em 1894, o oficial Al-
 ROMAN POLANSKI   man Polanski, «J’accuse», que foi aplaudido com fervor ao fim de sua pro-  fred Dreyfus (papel do galã Louis Garrel) foi preso, sob uma falsa acusação
 ESTRELAS  jeção e garantiu a seu elenco e a seus produtores uma ovação quando estes   de traição, alimentada por uma histeria antisemita no exército francês.
 JEAN DUJARDIN   entraram na sala de conferências de imprensa. Aos 86 anos, o realizador   Um ex-professor do oficial, o coronel Georges Picquart (vivido pelo vence-
 LOUIS GARREL    franco-poloca não compareceu à sessão. Impedido de sair da França, onde   dor do Oscar Jean Dujardin, de «O Artista»), fará de tudo para provar que
 EMMANUELLE SEIGNER   vive, por um processo judicial derivado de uma acusação de abuso sexual   sua prisão é injusta. Os seus esforços vão mobilizar o notório escritor Émi-
 FRANÇA, 2019   de uma menor, Polanski teve o seu nome apedrejado, no início do festival,   le Zola (1840-1902), que escreve uma carta pública contra a postura into-
 132 MIN  por grupos feministas que condenaram a inclusão do filme em concurso. A   lerante da Justiça. “Dreyfus viveu um inferno durante dez anos de uma
 própria presidente do júri de 2019, a cineasta argentina Lucrecia Martel,   prisão injusta. Mas eu, sendo francês, só vim a descobrir essa história,
 revelou o seu desconforto, recusando-se a ver a longa na sessão de gala,   em todos esses detalhes, fazendo esse filme”, disse Garrel, que esbanjou o
 para não ter que aplaudir, ainda que simbolicamente, o realizador.  Apesar   seu italiano na conversa com os jornalistas internacionais, para ser gentil
 disso, «J’Accuse» inflamou e encantou a plateia pelo seu requinte visual   com o seu anfitrião, o povo de Veneza, sendo aplaudido pelo gesto. “Vocês
 (em especial nos rigorosos enquadramentos da fotografia de Pawel Edel-  deveriam aplaudir o meu professor de italiano”. RF
 man) e pelo contundente debate que abre sobre deveres, direitos e into-
 lerâncias na Lei. Escrito por Robert Harris a partir do romance (da sua
 própria autoria) “An officer and a spy”, a longa revive o Caso Dreyfus: um




 VENEZA

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