Page 59 - Revista Metropolis 123
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     por descambar quando os convivas   piedosa e corrosiva ao mundo dos que   Óscar para o Melhor Filme Estrangei-
            se apercebem que o patrão morrera   vivem das aparências e das ilusórias   ro. Decisão cinco estrelas…!
            e o corpo se encontrava a ser velado   fachadas que escondem a podridão.
            pelos empregados e familiares numa   Tudo será motivo de escárnio, incluin-  o fantasma da liberdade
            sala contígua. Perderam assim o ape-  do  a  instituição  militar  que  não  será   Terceira proposta de visionamento,
            tite? Nem por isso! Mudaram foi de   poupada, como não sairão a salvo os   «Le Fantôme de la Liberté» («O Fan-
            poiso e de agulha existencial. Pouco   figurões que o realizador e o co-ar-  tasma da Liberdade»), 1974. Título
            a pouco iremos sabendo mais porme-  gumentista Jean-Claude Carrière de-  provocador, forma discreta de home-
            nores de cada uma das personagens,   cidiram demolir, pedra a pedra, num   nagear a herança ideológica de Karl
            e a mais caricata e repugnante será   ciclo que inclui sonhos e pesadelos,   Marx. Para o realizador, a “liberdade”
            sem dúvida a do embaixador de uma   uns atrás dos outros e até uns dentro   vista como um fantasma, algo que se
            república das bananas completamen-  dos outros. Em suma, um filme que   busca, mas que na prática é difícil de
            te inventada, a República de Miran-  parecia fadado para um nicho cinéfilo   apreender ou alcançar plenamente.
            da, mas muito parecida com algumas   acabou de forma exuberante e para   Fantasma que uma vez solto anuncia
            bem  verdadeiras  que  naquela  época   espanto de muitos por ganhar um lu-  no cinema outras provocações sob
            e ainda hoje navegam nas águas ge-  gar ao sol da Califórnia na cerimónia   a forma de sequências encadeadas
            ladas do calculo egoísta, ou seja, no   promovida em 1973 pela Academia   umas nas outras num filme que come-
            lodaçal dos seus corruptos dirigentes.   de Artes e Ciências Cinematográficas   ça com o célebre quadro de Francisco
            Todo o filme será, aliás, uma sátira im-  de Hollywood. Nem mais, recebeu o   Goya “Os Fuzilamentos do 3 de Maio”,





