Page 36 - Revista Metropolis 123
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CHAMA-ME PELO TEU
NOME (2017)
Intenso na sua contenção visual e narrativa, «Cha-
ma-me pelo Teu Nome» (2017) assume um ponto de
fronteira no percurso de Luca Guadagnino. Baseado no
livro de André Aciman, a história de Elio e Oliver é de
descoberta pessoal e sexual, num coming-of-age queer
que se cruza com a atmosfera naturalista, emocional e
quente da Itália dos anos 80. Os planos contemplati-
vos, o silêncio carregado de palavras e a sensualidade
delicada da realização de Guadagnino tiveram aqui a
sua exposição (e consagração) a um público global, em-
balados por uma banda sonora intimista e melancóli-
ca. Para muitos, o filme encerra uma era mais autêntica
e fértil do realizador, que, desde então, tem preferido
avançar por outros terrenos (em que a delicadeza das
emoções, marcante nos primeiros filmes, cedeu lugar a
uma estética mais dominante e estéril).
marisa vitorino figueiredo
A
TIV
C SUSPIRIA (2018)
OSPE Tilda. Tilda. Tilda. Três vezes Tilda Swinton brilha nesta
adpatação do clássico de Dario Argento. A personagem
principal, porém, foi dada a uma algo murcha Dakota
RETR banal que viaja para Berlim afim de se tornar bailarina
Johnson que faz de Susie: uma aparentemente mulher
e descobre ter poderes sobrenaturais sendo acolhida e
celebrada pelo clã de bruxas que dirige a escola de dan-
GNINO ça. Mas o que poderia ser apenas mais um filme de ter-
ror sobrenatural torna-se numa reflexão mais profunda
com um argumento muito bem retrabalhado por David
Kajganich. Os temas de maternidade, cultura matriacal
e inquisitiva. Mas é sobretudo a questão do sentimento
A e condição feminina são explorados de forma elegante
complexo de Vergangenheitsbewältigung que eleva o fil-
AD me. Esta impossivelmente longa expressão descreve o
sentimento germânico pós-guerra de tentativa de con-
A GU frontar e digerir, ética e politicamente, a amoralidade
do III Reich. Sentimento esse que teve o seu acme em
1977, com os atentados das brigadas vermelhas, ano em
C que a primeira versão do filme é rodada. Aos encarnados
de Argento que espelham o terrorismo comunista do
U “Outono Alemão”(Deutscher Herbst), Guadgnino opõe
L a paleta de cinzentos ácidos da dúvida e da incerteza.
Tomara que todos os remakes que Hollywood insiste em
produzir tivessem esta sofisticação.
nuno vaz de moura
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