Page 184 - Revista Metropolis 123
P. 184
surge mais como um espelho afectivo do seu que valorizam a fisicalidade dos ambientes,
passado do que como desencadeadora de um reforça a tensão entre liberdade e enraizamento.
melodrama sentimental. A química entre ambos Onde o filme revela fragilidades é nas pequenas
revela maturidade e contenção; e o filme recusa hesitações de ritmo e em certas transições
transformar esse reencontro numa história de narrativas que não atingem totalmente a
amor reavivado, preferindo explorá-lo como um profundidade sugerida. A multiplicidade temática
acerto de contas emocional que permite ao casal — maternidade iminente, ambição profissional,
fechar um capítulo. pertença territorial, amores adiados e relações
parentais — corre o risco de diluir algumas linhas
A cinematografia de David Cailley, com a dramáticas. Ainda assim, a coerência emocional
iluminação nocturna em néon e a insistência em de Cécile, desenhada com subtileza e densidade,
sombras suaves e reflexos de estrada, cria um permite que o conjunto se mantenha estável,
ambiente visual entre o onírico e o documental. A mesmo quando a narrativa poderia beneficiar de
própria realizadora reconhece que o restaurante maior ousadia em alguns desfechos. Foi intenção
encontrado aquando da repérage determinou em de Bonnin rejeitar a nostalgia conciliadora em
boa parte a aura estética do filme. A presença prol de um olhar em que o passado pesa, mas não
sonora constante da estrada, complementada aprisiona. Algo que é bem patente no final: as
por escolhas de montagem e desenho de som personagens não encontram soluções definitivas,
184 METROPOLIS OUTUBRO 2025
