Page 12 - Revista Metropolis nº122
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BRASIL, UM NOME QUE GERA PLURAIS











                                           CINEMA BRASILEIRO
                                               RODRIGO FONSECA







                                Os 30 anos que se passaram    Enquanto o Brasil celebra a histórica posse de
                                desde a consagração mundial   Lula, um churrasco regado a champanhe reúne
                                de   «Terra    Estrangeira»   duas famílias do interior gaúcho cujas máscaras
                                não passaram ao lado pela     estão prestes a cair. Da sogra que retorna à sua
                                Filmin, streaming essencial   antiga mansão, delapidada, à filha da empregada
                                para quem quiser ver o filme   de origem não discutida, todas e todos por
                                de culto responsável pela     lá têm seus pecados. No elenco, além do fino
                                projeção de Walter Salles     desempenho de Ítala, no papel de uma irascível
            (muitooo) prévio de «Ainda Estou Aqui» (2024),    matriarca, cheia de desmandos e de mandos,
            a rodar a sua longa de formação em duo com        brilham  em  cena  Camila  Morgado,  Martha
            Daniela Thomas. Atrás de resquícios lusitanos     Nowil, Ismael Caneppele, Michael Wahrmann e
            dessa joia, escreve-se o nome Brasil na barra de   (um inspiradíssimo) Augusto Madeira.
            pesquisa desse obrigatório serviço de streaming
            europeu e ele nos conduz a tesouros sul-          Ainda nessa secção Brasil, a Filmin.PT
            americanos. «Domingo» é um deles. Exibido na      guarda uma boa safra de Glauber Rocha (vide
            sessão Venice Days, no Lido, em 2018, e aclamado   «Barravento») e o premiado melodrama «A Vida
            na sua passagem por festivais em Lima, Havana,    Invisível», que rendeu ao cearense Karim Aïnouz
            Brasília e Rio, onde rendeu o troféu Redentor de   o troféu Un Certain Regard de Cannes em 2019.
            Melhor Atriz à veterana Ítala Nandi, a produção   Fernanda Montenegro flana pelo seu elenco.
            volta ao passado para os momentos iniciais da
            chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao comando   Ainda por lá... e pela Globoplay... encontra-se
            da sua nação, no início dos anos 2000.            «Marighella», de Wagner Moura, lançado na
                                                              Berlinale de 2019. Estandarte da luta simbólica
            Clara Linhart e Fellipe Gamarano Barbosa          contra Bolsonaro, este thriller  de época só
            (parceiros em «Gabriel e a Montanha») assinam     foi lançado comercialmente na sua pátria em
            a realização desta bem-humorada crónica sobre     2021. O desempenho de Seu Jorge no papel do
            as mudanças éticas que a sociedade brasileira     guerrilheiro e poeta Carlos Marighella (1911-
            viria a sofrer com a eleição de um operário       1969) contagia a plateia, em especial no momento
            do Nordeste para presidente. Sinuosa, no seu      de uma entrevista a um jornalista francês que,
            passeio pelas vaidades de diferentes integrantes   ao interpelá-lo, para saber se ele é maoísta,
            de um clã gaúcho abastado, a sua narrativa se     leninista ou trotskista, recebe como resposta:
            passa no primeiro de janeiro de 2003, um sábado.   “Sou brasileiro”.














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