Era uma vez um menino que queria que o chamassem de Courgette. Sim, como o legume, pois era assim que a mãe o chamava. Este menino tinha cabelo azulado, olhos tristes, uma cabeça em forma de batata e fazia voar o seu papagaio de papel. Este é o protagonista da primeira longa-metragem de Claude Barras, que se baseou no livro de Gilles Paris, “Autobiographie d’une courgette” (2002).
Courgette é um menino de 9 anos que de uma forma trágica perde a sua abusiva mãe. O menino só pode contar com a ajuda do gentil agente da polícia, Raymond, o qual o leva para o seu novo lar, o orfanato Fontaines. Aqui encontrará outras crianças com tristezas semelhantes e terá de descobrir o seu caminho, o seu lugar, mesmo que por vezes seja difícil e doloroso. E é durante esta caminhada que Courgette conquista as outras personagens e também o público.
A stop-motion de Barras tem Alma. Sabemos que estamos no mundo do faz-de-conta, mas os “bonecos” tornam-se mais reais a cada minuto que passa e deixamo-nos levar pela magia da animação. Isto deve-se a uma fantástica adaptação do livro de Gilles Paris por Céline Sciamma e igualmente a uma extraordinária direção artística (Ludovic Chemarin), que criou um mundo de “plasticina”, de colagens e rabiscos, como os desenhos de Courgette. Ou seja, um mundo de e para crianças. Desta forma, Claude Barras construiu um filme para ser visto em família, mesmo falando sobre famílias disfuncionais devido a problemas de drogas, violência, abandono. É um conto infantil contemporâneo, com o qual aprendemos, nos maravilhamos e nos emocionamos, sem, porém, cair em sentimentalismos fáceis ou artificiais. Pelo contrário, deparamo-nos com a frontalidade, espontaneidade e inocência de crianças que só precisam de amor mesmo quando respondem rudemente ou se escondem dentro de armários. É um filme comovente, sensível e que nos faz acreditar na esperança, em novos sorrisos. E a versão de Sophie Hunger da música “Le vent nous portera” (Noir Désir) reforça esta crença.
Por estas razões «A Minha Vida de Courgette» foi nomeado e ganhou vários prémios, entre os quais o Grande Prémio MONSTRA para a melhor longa-metragem no festival português de animação, MONSTRA 2017.
Título original: Ma vie de Courgette Realização: Claude Barras Elenco (vozes): Gaspard Schlatter, Sixtine Murat, Paulin Jaccoud, Michel Vuillermoz Duração: 66 min. Suiça/França, 2016
[Texto originalmente publicado na Revista Metropolis nº48, Abril 2017]
https://www.youtube.com/watch?v=4d9N5Y_sN8Q