Precisávamos de outro «West Side Story»? Não. A realização de Steven Spielberg fez-nos mudar de ideias? Mais ou menos. Este que é o primeiro musical do cineasta veterano tem uma linguagem fora de tempo, ou fora de moda, mas não fora de tom. A sua abordagem clássica do género musical, tal como ele era concebido nos anos 1950 – e que ainda foi apanágio da versão cinematográfica de Robert Wise e Jerome Robbins, de 1961 – é algo que não diz muito ao grande público de hoje, colado à referência de um «La La Land». E aí deparamos com o motivo da estranheza e timidez dos respetivos números de bilheteira, que têm sido assunto noticioso. Uma das explicações poderá ser esta de que as novas gerações não estão familiarizadas com o musical na sua tradição mais clássica. Spielberg tomou o risco porque acreditou que a modernidade temática da rivalidade de gangues, neste caso, corrigindo-se no filme a representação dos imigrantes porto-riquenhos com atores latinos (que se permitem a falar espanhol sem legendas), era suficiente para agarrar os espectadores de hoje. Mas o realizador conhecido pela sensibilidade com o público desta vez perdeu o pé.

Descendo ao concreto da história, «West Side Story» é a variação de um Romeu e Julieta em cenário nova-iorquino nos anos 1950, com os gangues oponentes Sharks e Jets em lugar dos Montecchios e Capuletos. Aqui, Rachel Zegler e Ansel Elgort são os apaixonados María e Tony, papéis que antes pertenceram a Natalie Wood e Richard Beymer. E se o amor à primeira vista de ambos é recriado de forma maravilhosa, os arranjos que o argumento de Tony Kushner fez na peça de Arthur Laurents torna frágil a relevância desse centro narrativo. Digamos que se esse amor de María e Tony, por definição, era o sustentáculo emocional do filme, com toda a sua carga de tragicidade, agora sente-se mais uma configuração coral, com as supostas personagens secundárias a assumir um peso semelhante ao dos protagonistas.

O que faz valer a pena este remake de Spielberg é, de facto, a destreza avisada de alguém que estudou bem a matéria, ou não fosse a fluidez da câmara, atenta à especificidade do género, o elemento mágico deste «West Side Story». Spielberg filma ao sabor das coreografias e segue a pulsação das músicas de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim. Algo que se conjuga com a presença doce de Rita Moreno, a atriz a servir de ligação umbilical ao primeiro filme. No fim, a sensação é a de se ter revisitado demasiado de perto um clássico, com respeito, sabedoria e absoluta segurança, mas sem adiantar muito… Inês N. Lourenço

Título original: West Side Story Realização: Steven Spielberg Elenco: Rachel Zegler, Ansel Elgort, Rita Moreno Duração: 156 min EUA, 2021

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