Wesley Wes Anderson, natural de Houston, Texas, é um dos mais visionários realizadores da sua geração. Influenciado por outros grandes nomes da sétima arte – Truffaut, Almodóvar, Kubrick, Welles e Polanski -, Anderson desenvolveu um estilo próprio, marcado pela predominância das simetrias, influência da cor e personagens distópicas.

Quantos, na indústria cinematográfica atual, dentro ou fora das grandes produtoras, podem gabar-se de conseguir pensar, escrever e realizar filmes? Poucos, certamente. Quantos o conseguirão fazer bem? Ainda menos.
Entre os nomes que podem ser apontados, salta à vista um dos mais promissores da sua geração, Wesley Wes Anderson. É dele – um texano radicado em Paris, França – que falamos, a propósito da estreia da longa-metragem, a «Ilha dos Cães».

Anderson, filho do casal Texas Anne Burroughs e Melver Leonard Anderson, nasceu a 1 de maio de 1969, em Houston. Aos oito anos, teve que lidar com o divórcio dos pais, momento difícil que iria marcar a sua infância.
Formou-se na St. John School, uma escola preparatória privada que seria uma influência relevante na carreira do realizador, comprovada em «Gostam Todos da Mesma» (1998).

O interesse pelo cinema surge-lhe desde cedo. Graças à Super 8 do pai, começa por fazer filmes mudos em que os protagonistas eram os seus irmãos e amigos. Contudo, inicialmente, a grande paixão de Wes Anderson centrava-se na escrita de guiões.

De hobby, o cinema tornou-se uma paixão. Tal como Totó, em «Cinema Paraíso» (1998) – em reposição nas salas nacionais -, Anderson foi também projecionista, em part-time, numa sala de cinema local. A experiência vinha reforçar a ligação do jovem artista à sétima arte.

O Fantástico Senhor Raposo

Mais tarde, quando estudava filosofia na Universidade do Texas, em Austin, conhece um dos seus melhores amigos e parceiros de trabalho, o ator Owen Wilson. É com ele que Anderson realiza a sua primeira curta-metragem, intitulada «Roda Livre» (1996), baseada numa primeira produção amadora que contava com Owen Wilson e Luke Wilson, irmão do primeiro.

A curta-metragem que marca oficialmente a estreia de Wes Anderson conta-nos a estória de um grupo de jovens texanos que ambicionavam ser grandes criminosos. O filme foi bem recebido pela crítica e chegou a ser exibido no Festival de Sundance, não tendo, contudo, feito sucesso na bilheteira.

Segue-se a comédia «Gostam Todos da Mesma». A produção retrata a paixão de um estudante do ensino secundário (Jason Schwartzman) por uma professora do ensino primário (Olivia Williams). Altamente inspirado nos tempos da St. John’s School, o filme foi um sucesso e, a par de «Roda Livre», viria a ser destacado pelo experiente Martin Scorsese, numa entrevista à revista “Esquire”.

A aposta na comédia seria para manter, veja-se a tradução portuguesa do filme que se seguiu na carreira de Wes Anderson, «Os Tenenbaums – Uma Comédia Genial» (2001). A longa-metragem iria tornar-se o maior sucesso de bilheteira do realizador, tendo alcançado 50 milhões de dólares no box office americano. «Os Tenenbaums» mereceram ainda uma nomeação para o Oscar, na categoria Melhor Argumento Original, e está classificado em 159.º lugar na tabela da revista “Empire” que retrata os melhores filmes de sempre.

A sua admiração pelo realizador indiano Satyajit Ray, iria resultar numa aposta pessoal de Wes Anderson: realizar um filme rodado na Índia que contasse a história de três irmãos durante uma viagem de comboio. Estávamos assim na antecâmara de «The Darjeeling Limited» (2007). A produção não foi um sucesso de bilheteira, mas conta com um elenco liderado por Owen Wilson, Adrien Brody e Jason Schwartzman.

Moonrise Kingdom

É, no entanto, através da adaptação da obra de Roald Dahl que Wes Anderson descobre (e reinventa, arriscamos nós) a técnica de stop-motion, no filme «O Fantástico Senhor Raposo» (2009). O trabalho foi amplamente elogiado e nomeado para o Oscar de Melhor Filme de Animação, isto apesar de não ter rendido tanto quanto se esperava na bilheteira, servindo apenas para suportar os custos de rodagem.

Já em 2014 , depois de «Moonrise Kingdom» (2012), surge a obra máxima de Anderson, intitulada «Grand Budapest Hotel». O elenco, liderado por Ralph Fiennes, suportado por Jude Law, F. Murray Abraham e a “pequena” Saoirse Ronan. Na película seguimos as (des)venturas de M. Gustave (Ralph Fiennes), zelador do hotel que dá nome ao filme. A ação desenvolve-se a um ritmo alucinante, recheada de momentos de humor, marcados pelo sarcasmo que pauta todas as produções de Wes Anderson.

O filme mereceu nove nomeações da Academia, angariou 175 milhões de dólares e atribuiu ao realizador a sua primeira indicação para o Oscar de Melhor Realizador.

Na obra de Anderson, seguiu-se a «Ilha dos Cães». O projeto foi anunciado em 2015 e marcou um regresso à técnica de stop-motion. A animação conta ainda com um elenco recheado de talento, responsável pelas dobragens: Bill Murray, Bryan Cranston, Tilda Swinton, Liev Schriber, Frances McDormand, Scarlett Johansson, Edward Norton, entre outros.

Um Peixe Fora de Água

Tudo uma questão de estilo
Mas afinal, onde reside a marca do autor? É sobretudo no estilo, nas características que Anderson não abdica ao rodar um filme. Falamos do ritmo acelerado, da utilização predominante da cor, do obsessão com o rigor simétrico visível em cada plano, da predominância de lentes panorâmicas anamórficas, dos movimentos sucessivos da câmara, zooms, slow-motion, entre outras técnicas tipicamente associadas ao realizador.

Há também uma apetência para estórias sobre a perda da inocência, luto, famílias disfuncionais, abandono parental, adultério, rivalidades entre irmãos e amizades indesejadas, temas prediletos de Wes Anderson.
“Tento sempre fazer algo diferente do que já fiz. Tento não me repetir, mas de repente parece que o faço continuamente. Só quero fazer filmes que me dizem algo, tendo interesse para o público também. Por vezes sou criticado por preferir o estilo em detrimento da substância, mas cada decisão que tomo é pensada em prol das personagens”, conclui o realizador. Pedro Santos Ferreira

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº59, Abril 2018]

https://www.youtube.com/watch?v=GCJGD2KDmp0&t=1s
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