«Velocidade Furiosa X» é uma colisão frontal com a razão e o bom-senso. E nem é uma questão de lógica porque há muito que a lógica se tornou num conceito abstrato na saga Fast & Furious (F&F).
As expectativas de Fast X não poderiam ser mais altas mas foram defraudadas por um argumento pobre, diálogos vazios e stunts encravados na mesma mudança. «Velocidade Furiosa X» é dominado por carros, velocidade e acção mas os diálogos são lentos e vão a pé numa sucessão inebriante de clichés. E por muita qualidade que os actores possuam estes nada podem fazer quando têm de representar falas que não fazem lembrar nada.
O enredo aborda um fantasma do passado que reaparece para fazer sofrer a “família” Toretto. O vilão interpretado por Jason Momoa (com rédea solta para fazer estragos) tem uns parafusos menos e quer destruir em lume brando o mundo de Dominic Toretto (Vin Diesel nasceu com um volante na mão para este desempenho).
A par do confronto principal temos três subtramas: a parceria inesperada entre Letty (Michelle Rodriguez numa boa performance, é um mundo à parte) e Cipher (Charlize Theron é um caso sério no cinema de acção), a dupla representa o melhor do filme; Roman (Tyrese Gibson), Tej (Ludacris) e companhia estão longe do humor e à deriva em Londres; Jakob (John Cena, mesmo em typecasting, é carismático) e o sobrinho (Leo Abelo Perry), têm um bom rapport numa afável “road trip”.
A trama central cruza continentes com um impressionante big-bang em Roma, uma street race, a lembrar as origens da série, e um confronto no Rio de Janeiro, local onde está a raiz da vingança que motiva o antagonista da história. O filme culmina num desfecho épico rodado em Portugal.
Os F&F anteriores souberam debitar, entre múltiplas tramas e milhentos personagens, a ação, o irreal, a química dos personagens, os valores de amizade e a noção de um clã inseparável e insuperável. Houve evidentemente altos e baixos na saga mas houve mínimos olímpicos na forma como se criaram argumentos e grandes stunts que ficaram na retina.
Justin Lin, que teve um enorme mérito no legado F&F – um dos cérebros criativos da saga – abandonou o barco por alegadas divergências com Vin Diesel. Sentimos a sua ausência na falta de originalidade da história, diálogos pouco inventivos e a realização sem o lado virtuoso.
Dan Mazeau, autor do sofrível «Fúria de Titãs», está como co-argumentista mas julgamos ter sido o main writer na ausência de Justin Lin. A sua contribuição é pobre com uma história que tem poucas surpresas e as falas estão ao nível dos Teletubbies.
O realizador Louis Leterrier tinha capacidade para fazer muito melhor, recordamos a sua frenética estreia no cinema de acção com «Correio de Risco» (2002). Louis Leterrier está distante do estilo de realização que Justin Lin nos habituou em F&F. Os stunts deste filme são reciclados e mesmo que apelem à nostalgia esta saga foi sempre marcada pela inovação que claramente é uma peça em falta nas sequências de acção com os bólides.
«Velocidade Furiosa X» é um anticlímax. A primeira de duas partes, fica muito aquém das expectativas, há um esgotamento de ideias, é sofrível. Esperamos que F&F passe pela oficina antes de voltar à estrada.
Título Original: Fast X Realização: Louis Leterrier Elenco: Vin Diesel, Tyrese Gibson, Michelle Rodriguez, Jason Momoa, Ludacris, John Cena, Jason Statham, Helen Mirren, Brie Larson, Charlize Theron, Nathalie Emmanuel, Alan Ritchson, Daniela Melchior, Sung Kang, Jordana Brewster, Pete Davidson Duração: 141 min. EUA, 2023
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