O grande candidato aos prémios de cinema de língua estrangeira, tendo conseguido as nomeações para o Óscar e Globo dessa categoria, e o grande vencedor dos European Film Awards (Melhor realização, ator, atriz e argumento), «Toni Erdmann» é muito mais do que uma comédia sui generis bem escrita e interpretada. «Toni Erdmann» é uma odisseia pelo mundo das relações humanas e um retrato fidedigno do fator labiríntico que rege as relações familiares.

Cru mas gracioso ao mesmo tempo, o filme assinado por Maren Ade, produtora de filmes portugueses como «Tabu» e «As Mil e Uma Noites», baralha-nos nos limites do que é certo e errado do ponto de vida sociológico, dando-nos, ao mesmo tempo, a segurança de que por vezes é aceitável e muito saudável não obedecer às normas instituídas.

O ator Peter Simonischek é Winfried, um género de professor que passa os dias a contar piadas e que parece meio alienado da realidade. Winfried é, igualmente, o pai de Ines, uma mulher de negócios que vive agora em Bucareste e que mantém uma relação desapegada com a família. No dia em que Winfried decide visitar a Ines na Roménia, esta não será apenas uma visita de cortesia. Esta é a oportunidade de Winfried ajudar a sua filha a encontrar um sentido para a sua vida infeliz focada numa carreira e num estado emocional que não lhe traz felicidade mas sim um enorme buraco interior.

Sob a escrita de um argumento inteligente salteado de humor mordaz, a realizadora Maren Ade deixa-nos entrar no imaginário da personagem que Winfried cria para desafiar Ines, o famoso Toni Erdmann, e convida-nos a experimentar viver sem pensar muito no que é correto ou não. Por vezes, perante a falsidade, é na loucura que se encontra a autenticidade.

Com excelentes interpretações dos dois protagonistas, a realizadora e argumentista alemã coloca na experiência de Ines (Sandra Huller) o reflexo de uma vida em função do que só traz vazio, do que oferece um prazer imediato mas que se torna insustentável a médio prazo. E é na quebra desse estereótipo e no agir “fora da caixa” que «Toni Erdmann» ganha a rendição da audiência.

A felicidade está na urgência de viver o momento, no conforto do toque e no estar consciente de que é nas emoções que nos relacionamos, que crescemos e nos rendemos à vida. «Toni Erdmann» desafia-nos a saborear a vida fora dos padrões limitativos, permitindo-nos ser livres através das ações de Ines e de Toni.

Título original: Toni Erdmann Realização: Maren Ade Elenco: Sandra Hüller, Peter Simonischek, Michael Wittenborn. Duração: 162 min. Alemanha, 2016

[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº50, Junho 2017]

https://youtu.be/j0uwi5EPnpA
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