O mundo dos heróis de collants invadiu definitivamente o universo mental dos produtores de Hollywood que veem na produção de filmes inspirados em personagens com 50 anos ou mais uma forma de assegurar o triunfo nas bilheteiras a cada verão ou natal. Essa abordagem está naturalmente enferma de muitos riscos e problemas que nalguns casos podem mesmo sufocar o aparecimento de novos talentos e a produção de projectos que escapem ao molde do dito ‘blockbuster’. O futuro do cinema parece cada vez mais estar na TV, até mesmo nos seus autores e realizadores, veja-se o caso do realizador Alan Taylor que assina este «Thor – O Mundo das Trevas». Taylor que assina aqui a sua primeira longa-metragem cinematográfica é um veterano da TV, tendo trabalhado em séries tão emblemáticas como «Sexo na Cidade», «Deadwood», «Carnivàle», «Perdidos», «Roma», «Big Love», «Os Sopranos», «Mad Men», «Boardwalk Empire» e «A Guerra dos Tronos». O seu trabalho nesta última saga da HBO pô-lo na mira dos produtores da Marvel quando eles procuravam um sucessor para Kenneth Branagh capaz de levar o mundo de Thor para outro patamar evolutivo. Inspirando-se em narrativas desenvolvidas ao longo de 5 décadas, esta segunda aventura do paladino de Asgard tem como foco o regresso dos Elfos Negros, uma raça maligna que quer destruir o universo e fazer voltar as trevas. Para isso os elfos precisam da derradeira arma – o Aether, algo de tão terrível que no passado os guerreiros de Asgard enterraram-no num dos lugares mais desolados dos 9 mundos. Ao investigar uma anomalia gravitacional em Londres, Jane Foster, a apaixonada de Thor, é transportada para o local de aprisionamento do Aether, que imediatamente se funde com a bela cientista. Entretanto os Elfos começam a assolar Asgard em busca da arma final, porém Jane, o seu recetáculo, escapa por uma unha negra, mas não sem grande sacríficio para Asgard. Thor tem então de se aliar com o seu ínvio irmão Loki e pôr em prática um plano tão arrojado quanto desesperado para travar os desígnios sinistros dos Elfos Negros. Este segundo filme é mais centrado em Asgard e desenvolve mais a relação entre Thor, Loki, o todo-poderoso Odin, a rainha Frigga, a bela lady Sif e os três companheiros de Thor, Frandral, Ogun e Volstagg. Alan Taylor cria sequências de grande beleza visual ao dar-nos uma perspectiva da dimensão do Reino Eterno, combinando de forma bastante eficaz as inevitáveis sequências de combate e destruição entre seres com o poder de deuses. Está lá tudo para fazer vibrar os fanboys e fangirls, porém o filme acaba por ser algo impessoal, dir-se-ia que qualquer artesão habilidoso seria capaz do mesmo resultado, mas esse é o preço de um produto formatado para o mais amplo apelo das massas, a personalidade de um autor é sempre algo de secundário quando os custos de produção de um filme deste tipo ultrapassam os 100 milhões de dólares. Uma sequela tão dinâmica quanto eficaz que faz as delícias dos iniciados, que têm aqui drama, humor, aventura de dimensões cósmicas e um elenco de actores carismáticos, com especial destaque para o deus do Trovão, interpretado por um sólido Chris Hemsworth, e Tom Hiddleston, no papel do insinuante Loki.
Título original: Thor: The Dark World Realização: Alan Taylor Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Stellan Skarsgård, Anthony Hopkins, Christopher Eccleston, Zachary Levi, Idris Elba, Jaimie Alexander Duração: 112 min EUA, 2013
[Texto originalmente publicado na revista Metropolis nº14, Novembro 2013]
https://www.youtube.com/watch?v=AK5_QJmKk9s