[Crítica publicada na revista Metropolis nº57, Fevereiro 2018]

Na grande tradição liberal do cinema de Hollywood, um filme foi especialmente marcante para a década de 70 e, em particular, para a geração mais nova de espectadores: «Os Homens do Presidente» (1976), de Alan J. Pakula, retratando a odisseia de dois jornalistas de The Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein (interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman, respectivamente), que investigaram o escândalo Watergate, em última instância desencadeando a demissão do presidente Richard Nixon, no Verão de 1974.

Pois bem, pode dizer-se que o novo e admirável filme de Steven Spielberg funciona como o prólogo do de Pakula, actualizando aquela tradição e o seu fundamental valor. A saber: conhecer e revelar as tensões entre os bastidores da política e o direito do público a uma informação genuína e verdadeira.

Pode mesmo dizer-se que «The Post» termina onde «Os Homens do Presidente» começa, evocando o primeiro e decisivo confronto de The Washington Post com a administração Nixon. Trata-se, neste caso, da batalha legal e moral que envolveu a publicação dos célebres Pentagon Papers, documento que investigava o envolvimento político e militar dos EUA na Indochina, em última instância mostrando que Nixon e os membros do seu governo tinham mentido ao povo americano sobre a situação real no Vietname e, mais concretamente, sobre a impossibilidade de vencer o conflito militar.

Kay Graham (Meryl Streep) e Ben Bradlee (Tom Hanks) são as personagens centrais, de alguma maneira sintetizando as delicadas questões que surgem quando The Washington Post se propõe divulgar o conteúdo do documento (uma pequena parte tinha sido já revelada por The New York Times). Para ela, proprietária do jornal, tratava-se de assumir uma decisão corajosa num contexto em que a sua condição de mulher era drasticamente minoritária; para ele, responsável editorial, importava encontrar o equilíbrio justo entre a publicação dos Pentagon Papers e a preservação dos interesses da própria nação.

Spielberg filma tudo isso como uma odisseia pela verdade. O seu filme tem algo de drama policial, num sentido muito preciso: o suspense nasce, aqui, da relação entre a consciência individual e as dinâmicas globais do jornal, da governação e, no limite, do próprio país. Desconcertante, sem dúvida: o cineasta que tantas vezes continua a ser descrito como o homem dos «efeitos especiais» é, afinal, um narrador eminentemente político.
João Lopes

Título original: The Post Realização: Steven Spielberg Elenco: Meryl Streep, Tom Hanks, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bruce Greenwood. Duração: 116 min. EUA, 2017

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