Os “The Monuments Men” eram um grupo de 350 homens e mulheres de 13 nações, a maioria dos quais voluntários no recém-criado MFAA, seção de Monumentos, Belas Artes e Arquivos. Tinham experiência como diretores de museus, curadores, professores de arte e educadores, artistas, arquitetos e arquivistas e a sua tarefa era simples: salvar o mais possível da cultura da Europa que pudessem durante a guerra.

O volume de peças roubadas é assustador: mais de cinco milhões dos maiores tesouros culturais da Europa foram roubados pelos nazis. Os itens roubados incluíram dezenas de milhares de trabalhos de mestres como Miguel Angelo, Leonardo Da Vinci, Rembrandt, Van Eyck, Vermeer e muitos mais. Apenas um repositório de obras de arte – a mina de sal de Altausee, Áustria – incluía 6,577 quadros, 230 desenhos ou aguarelas, 137 esculturas, 122 tapeçarias e 1200-1700 caixas de livros raros.

Quando a notícia chegou aos Estados Unidos sobre a arte nazi roubada e a destruição de igrejas, museus e monumentos por ambos os lados na guerra, líderes na comunidade de arte norte-americana organizaram-se para salvar a história cultural do Ocidente. Levaram o caso ao Presidente Roosevelt e, com o seu apoio, formaram a comissão norte-americana para a proteção e salvamento dos monumentos artísticos e históricos da Europa. Dessa comissão saltou o grupo de Monumentos, obras de arte e arquivos, que formaria uma brigada que iria proteger os monumentos históricos que sobreviveram, recuperar a arte roubada e entregar os tesouros artísticos aos seus países de origem.

Estes homens tinham não apenas a visão para compreender a grave ameaça para as maiores conquistas artísticas e culturais da civilização, mas depois juntaram-se às linhas de combate para fazer algo por isso. Eles tinham um mandato do Presidente Roosevelt e o apoio do General Eisnhower, mas não tinham veículos, gasolina, máquinas de escrever ou autoridade
Numa corrida contra o tempo para salvar os maiores tesouros culturais da destruição dos fanáticos nazis, cada homem reuniu esboços e pistas para construir o seu próprio mapa de tesouro utilizando registos recuperados de catedrais bombardeadas e museus, as notas secretas e jornais de Rose Valland, uma empregada de museu francesa que seguiu, de forma secreta, a pilhagem dos nazis através das estações ferroviárias.

Estes heróis improváveis, a maioria homens de família de meia-idade, deixaram carreiras de sucesso para mergulhar no epicentro da Guerra, arriscando – e alguns perdendo – as suas vidas. Tal como outros membros da geração grandiosa, eles corporizaram esse espírito corajoso que permitiu ao melhor da humanidade derrotar o pior dela.

Matt Damon e George Clooney

O Filme

Baseado no “best seller” de Robert M. Edsel e Bret Witter, “The Monuments Men”, o mais recente trabalho de George Clooney é um drama de ação focado em sete homens extraordinários, diretores de museus, artistas, arquitectos, curadores e historiadores de arte fora de forma física, que foram para a linha da frente da II Guerra Mundial para salvar obras-primas da arte mundial das mãos dos nazis e entregá-las aos seus proprietários legítimos. Com as obras escondidas por trás das linhas do inimigo, como é que eles podiam ter êxito? Eles iriam arriscar as suas vidas para proteger e defender as obras e alguns dos maiores feitos da humanidade.
“A História de ‘Os Caçadores de Tesouros’ é uma das que poucas pessoas conhecem,” diz George Clooney, que regressa à cadeira de realizador para esta história incrível de sacríficio pela humanidade deste pequeno grupo de “homens que já tinham ultrapassado a idade de serem chamados à tropa e de serem alistados (…) [que] embarcaram nesta aventura pois tinham esta crença que a cultura podia ser destruída. Se eles falhassem, isso podia significar a perda de seis milhões de obras de arte. Eles não iriam deixar que isso acontecesse e a verdade é que conseguiram”, acrescenta o ator e realizador.

A oportunidade de fazer um filme passado durante o grande conflito era muito atraente para Clooney e para o seu parceiro de escrita de argumento e de produção Grant Heslov. “Há uma certa magia à volta destes filmes – ‘A Grande Evasão’ (1963), ‘Doze Indomáveis Patifes’ (1967), ‘Os Canhões de Navarone’ (1961), ‘A Ponte do Rio Kwai’ (1957),” diz Clooney. “Neste género de filmes, toda a gente gosta das personagens e dos atores, bem como da história. E pensámos que este filme era uma grande oportunidade para escolher atores contemporâneos interessantes e trabalhar em conjunto para a nossa versão daquele género de filme – e uma forma divertida de o fazer.”

Um dos elementos do conflito principal do filme é que todos os homens escolhidos não tinham idade adequada para servir nas forças armadas em tempo de guerra. “As guerras são feitas por jovens de 18 anos,” diz Clooney.” Assim que chegamos ao John Goodman ou ao Bill Murray, sabemos que estes homens nunca seriam recrutados.” E Heslov acrescenta: “Eles recrutaram-nos pois eram os únicos que podiam cumprir aquela missão.” Na fase de pesquisa, Heslov disse que tinha lido recentemente o livro “The Monuments Men”, falou do assunto a Clooney e chegaram à conclusão que estavam perante uma oportunidade de contar uma história otimista numa escala épica, fugindo ao ambiente de contemporaneidade e cinismo dos tempos atuais que marcava o trabalho anterior de ambos, “Nos Idos de Março”.

“Estava a viver em Florença, a atravessar a Ponte Vechia – a única que não foi destruída pelos nazis quando fugiram em 1944 – e fiquei a pensar, ‘Este foi o maior conflito na história … como é que todos estes tesouros artísticos foram salvos e quem é que os salvou?’” pergunta Robert Edsel, o autor do livro. E procurou uma resposta: foi o grupo de Monumentos, Obras de arte e Arquivos, que iria até às linhas da frente e, pela primeira vez, tentar salvar os tesouros que pudessem ser salvos. “A Cultura estava em risco,” diz Clooney. “Vê-se isso estar sempre a acontecer. Viu-se no Iraque – os Museus não estavam protegidos e viu-se o quanto a cultura iraquiana perdeu por causa disso.”

Cate Blanchett


Ainda hoje, as pessoas estão a tentar recuperar a arte que foi roubada das suas famílias pelos Nazis,” refere Heslov, notando que há bem pouco tempo um tesouro foi encontrado num apartamento de Munique – 1500 obras no valor aproximado de 1,5 mil milhões de dólares, nomeadamente de quadros de Matisse, Picasso, Dix e outros artistas que se pensavam perdidos. “Penso que isso mostra que a história não acabou em 1945 – a busca pela arte perdida continua hoje,” continua Heslov. “Ainda existem milhares de obras que estão perdidas. Existem quadros pendurados em casa de pessoas ou à vista de todos nas paredes de museus. Podemos imaginar se tudo isso tivesse sido destruído? Teria sido uma catástrofe.”

Esta história aborda a II Guerra Mundial de uma forma que nos dá uma nova e diferente perspetiva sobre ela,” garante Cate Blanchett, que interpreta o determinante papel de Claire Simone, uma mulher que tem a chave para a localização secreta de milhares de obras roubadas de valor incalculável. “Estes homens foram estimulados por um valor mais alto. Muitos das obras que hoje estão nos grandes museus do mundo foram recuperadas por este grupo de homens – era quase uma missão impossível. Absurda, em certo sentido: homens, e não militares, a irem para a linha da frente e pedir a generais para não bombardearem uma certa igreja ou área para salvar uma janela, uma escultura ou um mural – ficamos a pensar como é que eles conseguiram salvar alguma coisa. Foi um feito extraordinário, nada egoísta, apenas para preservar a história.”
Robert Edsel diz que não seria de esperar que soldados a combater na guerra fossem recetivos à ideia de que podiam ou não destruir ou não alguma coisa – mas é o oposto. “Para surpresa de muitos – e sabemos disso através das cartas que escreveram, houve alguma resistência no início –, depressa os soldados começaram a perguntar, ‘Como nos estamos a portar? Conseguimos salvar algumas igrejas? Encontramos alguns quadros?’ Os militares começaram a interessar-se pela missão.”

Os homens deste batalhão único estavam igualmente a trabalhar num contra-relógio. Enquanto os aliados se aproximavam de Berlim, Hitler não estava disposto a aceitar a rendição incondicional – e se ele não pudesse ter a Alemanha ninguém a teria. “Tornou-se conhecido como o “Decreto de Nero”, Clooney explica. “Hitler disse, ‘Se eu morrer, destruam tudo’ – pontes, caminhos-de-ferro, comunicações – e isso incluí-a a arte também. Tudo.”


As Personagens

Apesar do filme ser baseado na história verdadeira dos “The Monuments Men”, George Clooney e Grant Heslov salientam que tomaram algumas liberdades para fins dramáticos. Apesar da maioria dos personagens serem inspirados pelos verdadeiros heróis, foram inventadas outras: “Para o filme, quisemos que algumas tivessem falhas – pensámos que isso iria ajudar os espetadores a gostar mais delas à medida que decorresse a história,” explica Clooney. “Mas não é justo que se pegue no nome verdadeiro de um grande homem e depois dar-lhe uma falha que ele não tinha na vida real.” Heslov acrescenta: “Penso que as nossas personagens acabam por parecer muito heroicas no filme e se ele inspirar pessoas a fazer a sua própria leitura e descobrir que os verdadeiros homens foram ainda mais heroicos, fico bem com isso.” Mais importante do que isso, embora as personagens sejam inventadas, a história é real: “Inventámos uma série de cenas mundanas, apenas para ajudar ao correr da história, mas as coisas que no filme se podia pensar que eram ridículas e estranhas, essas são as que realmente ocorreram,” esclarece Clooney.

O duo foi capaz de atrair uma fileira de atores de topo, incluindo Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin, Bob Balaban, Hugh Bonneville e Cate Blanchett. Poderia pensar-se que seria difícil o equilíbrio entre tantas estrelas, mas Clooney diz que é exatamente o oposto: “Todos estes actores são estrelas únicas nos projectos em que participam e tem de fazer andar todo o filme, mas estão tão à vontade nas suas próprias ‘personas’ que não precisam de entrar e dominar todas as cenas em que entram. Houve uma grande generosidade de espírito em todos os atores – estavam dispostos a chegar e atuar pois estavam a gostar da companhia uns dos outros.”

[Especial originalmente publicado na revista Metropolis nº17 – Fevereiro 2014]

*«The Monuments Men – Os Caçadores de Tesouros» está em exibição na HBO Portugal.

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