«The Kominsky Method» estreia a sua terceira e última temporada hoje na Netflix. A Metropolis teve acesso antecipado aos seis episódios que marcam a despedida da série protagonizada por Michael Douglas, agora sem alguns habitués das outras seasons.
Acostumados a ver Norman Newlander (Alan Arkin) ao lado de Sandy Kominsky (Michael Douglas), é estranho regressarmos a «The Kominsky Method» no momento do adeus. A saída do ator já era conhecida, mas não os seus moldes: numa série que funciona como metáfora à iminência da morte em Hollywood, faz sentido que o fim da passagem de Arkin seja também o fim definitivo de Norman. A terceira temporada arranca no funeral do agente, onde Sandy, Phoebe (Lisa Edelstein) e Robbie (Haley Joel Osment), entre outros, fazem os seus discursos de despedida. Os monólogos são bastante profundos e traçam, em estilos peculiares, o trajeto de uma das personagens mais marcantes da série criada por Chuck Lorre (A Teoria do Big Bang, Dois Homens e Meio), mas também das relações que desenvolveu.
«The Kominsky Method» apresenta-se como uma jornada individual mas, em pouco tempo, percebemos que é feita de relações. A mais marcante era a amizade de Sandy e Norman, mas há outras, antigas e novas, a ganhar espaço em mais uma incursão narrativa. Fala-se também de trabalho de equipa (ou falta dele), fat shaming, a eficácia da mensagem inclusiva que muitos criadores querem passar na TV (e de como a linguagem pode não ser percetível para quem vê) e até se equacionam decisões eticamente questionáveis. E, lado a lado, a beleza e o pior de Hollywood de mãos dadas.
Sai Arkin, entra Kathleen Turner como Roz, a ex-mulher de Sandy. A atriz, a improvável parceira do protagonista na nova temporada, é amiga há mais de 40 anos de Douglas, pelo que a participação é sobretudo simbólica. A entrada fulgurante de uma figura tão importante do passado de Sandy, e do presente de Mindy (Sarah Baker), ajuda a narrativa a mergulhar noutras áreas da vida das suas personagens – mas não só. A introdução de Roz possibilita uma segunda oportunidade para o protagonista, não necessariamente romântica, que lhe possibilita um encontro mais próximo com os seus fracassos… e quiçá o sucesso.
Além de Turner, há mais dois nomes sonantes a terem uma participação especial: Morgan Freeman e Barry Levinson. O ator faz dele próprio, estabelecendo uma relação interessante com Sandy e os seus alunos. A passagem, ainda que curta, é sem dúvida um dos pontos altos da season 3. Como não podia deixar de ser, com muitas “alfinetadas” a vários temas atuais, e nem as popularíssimas Masterclasses online em que Freeman marca presença escapam.
Um dos principais fios condutores dos últimos seis episódios prende-se com a execução do testamento de Norman. O braço-direito de Sandy escolheu o amigo como executor das suas vontades, bem como responsável pela parte do dinheiro que cabe a Phoebe e Robbie. A dupla organiza os planos mais mirabolantes para tentar conseguir o dinheiro de Norman, sem que Sandy se aborreça o suficiente para lhes tirar tudo de vez. Robbie, mais uma vez, é a versão cómica da Cientologia, forçando o seu discurso a quem se vai cruzando com ele. Já o tema do dinheiro relacionado com Mindy e Martin (Paul Reiser) promete assumir contornos mais sérios.
«The Kominsky Method» é uma série sobre a inevitabilidade das coisas. Se em «A Teoria do Big Bang» Chuck Lorre celebra a juventude-adulta, na aposta da Netflix ilustra a reta final desse percurso, o período imediatamente antes do fim. Mesmo sem saber quando chega esse “fim”, a sua inevitabilidade torna-o demasiado presente e real antes de o ser, sobretudo com as despedidas constantes às pessoas próximas que vão falecendo. O encontro de Sandy consigo próprio, perante a ausência de Norman, é uma revelação express em seis episódios que nos deixam com pena de não haver mais.